História da Copa do Mundo de 2010

África do Sul, 2010 – Um novo continente, um novo campeão

Pela primeira vez na história a Copa aterrissaria em terras africanas. Era o quinto continente a receber o maior torneio de futebol do mundo, deixando apenas a Oceania fora desse privilégio.

Para esta eliminatória, 204 países haviam sido inscritos, um recorde de inscrições. Era mais uma Copa após a mudança de regra em que o campeão anterior já não teria mais vaga assegurada ao torneiro seguinte. Portanto, a Itália precisou classificar-se via eliminatórias. Mesmo assim, todas as sete seleções detentoras de títulos estavam presentes nesse Mundial.

Além da anfitriã África do Sul, o continente africano levou um recorde de seleções, com seis integrantes ao todo. Somam-se à anfitriã: Argélia, Camarões, Costa do Marfim, Gana e Nigéria. Já na Europa, somando-se à campeã Itália, tivemos outras doze seleções: Alemanha, Dinamarca, Eslovênia, Espanha, França, Grécia, Holanda, Inglaterra, Portugal, Sérvia, Suíça e a estreante Eslováquia, a única estreante desse torneio, o número mais baixo de estreantes desde a Copa de 1950. Os sul-americanos que participaram do torneio, além do Brasil, serão: Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai. Pela Concacaf, três seleções estiveram em campo: EUA, Honduras e México. Os asiáticos também levaram apenas três seleções: Coreia do Norte, Coreia do Sul e Japão. A Austrália, disputando a eliminatória na Ásia abriu vaga para um recorde de países da Oceania, com a companhia da Nova Zelândia. Apenas 1 estreante era o número mais baixo da História das Copas, igualando a Copa de 1950, no Brasil, Além da debutante, 12 seleções retornaram após a ausência em Copas anteriores, o maior número da história até então, e 19 seleções participaram de forma consecutiva. Os norte-coreanos igualaram a segunda maior ausência em Copas, retornando ao torneio após 44 anos ou 10 Copas, assim como aconteceu com a Bolívia, em 1994, e atrás de Turquia, em 2002, com 11 Copas e 48 anos, Egito, em 1990, e Noruega em 1994, com as mesmas 11 Copas, mas com 56 anos de ausência, devido à não realização dos mundiais de 1942 e 1946.

A Copa seguiria as mesmas regras das anteriores.

O Brasil chegou à África do Sul treinada pelo capitão da seleção campeã em 1994, o ex-volante Dunga. Dunga não tinha experiência anterior como técnico e a decisão de conduzi-lo ao cargo foi acompanhada por críticas. Chegamos à Copa classificando em primeiro lugar nas eliminatórias e mais uma vez vencemos a Copa das Confederações, um ano antes. Mesmo assim o time não inspirava total confiança.

No Grupo do Brasil, o grupo G, estavam a forte seleção de Portugal, do astro Cristiano Ronaldo, Costa do Marfim e Coreia do Norte. Tivemos uma estreia ruim, vencendo a fraca Coreia do Norte apenas por 2 x 1, sofrendo o segundo gol de um time asiático, na História das Copas. O segundo gol brasileiro, marcado pelo jogador Elano, foi o 10º gol brasileiro sobre seleções asiáticas na História das Copas. No entanto, no segundo jogo, o jogador Didier Drogba, da Costa do Marfim anotou o primeiro gol de um time africano sobre o Brasil na História das Copas, mas o Brasil levou a melhor e venceu por 3 x 1. Não fosse esse gol, o Brasil terminaria seu sexto confronto com seleções africanas com a quinta vitória por 3 x 0. O zagueiro brasileiro Lúcio, com 14 vitórias em Copas pela seleção brasileira, tornou-se o terceiro jogador mais vitorioso de nossa seleção. Portugal encontrava, nessa Primeira Fase, duas seleções que encontrou em sua estreia, em 1966, quando enfrentou Coreia do Norte e Brasil e venceu a ambos. Desta vez, no entanto, ficou no 0 x 0 com o Brasil, mantendo-se como uma das quatro seleções nunca derrotada nos confrontos com os brasileiros – além da Hungria, Noruega e Suíça. Já contra os norte-coreanos, aplicou a maior goleada dessa Copa e de sua história, num memorável 7 x 0, além de se tornar o jogo com mais gols desse torneio e o 50º confronto entre europeus e asiáticos na História das Copas. O quinto gol do jogo, marcado pelo jogador brasileiro naturalizado português Liédson, foi o 10º gol de Portugal sobre a Coreia do Norte na História das Copas. Costa do Marfim também venceu os norte-coreanos, num placar de 3 x 0, igualando a maior goleada de uma seleção africana na História das Copas, assim como já havia acontecido com a Nigéria, em 1994, e com Marrocos, em 1998. As três derrotas dos norte-coreanos nessa Copa, somada a derrota no último jogo em 1966, fizeram a Coreia do Norte igualar a marca negativa de 4 jogos sem marcar pontos, que pertence à outra Coreia, a do Sul.

Quanto aos demais grupos, pelo Grupo A, o único composto por dois campeões mundias, justamente França e Uruguai repetem uma fato negativo dos confrontos entre Alemanha x Itália, que em 1978 assinalam o segundo 0 x 0 em seus jogos na história das Copas, sendo os únicos dois confrontos a repetir tal placar. Além desse empate, a França repete o fiasco de 2002, saindo da Copa na Primeira Fase depois de disputar a final da edição anterior. Na derrota para o México por 2 x 0, na segunda rodada, o primeiro gol mexicano, marcado pelo jogador Chicharito Hernandez, foi o gol de número 2.100 na História das Copas. Já o segundo gol mexicano foi anotado pelo jogador Cuauhtémoc Blanco, seu segundo gol de pênalti em Copas, uma vez que também havia anotado um gol desta forma em 2002, igualando seu conterrâneo Garcia Aspe com 2 gols de pênalti, um recorde para jogadores da Concacaf na História das Copas e colocando o México na terceira melhor marca até então no geral e a melhor marca de uma seleção da Concacaf em gols de pênalti marcados, com 9 gols. Blanco também se tornou o terceiro jogador mais velho no geral e o mais velho da Concacaf a marcar um gol em Copa do Mundo, aos 37 anos e 151 dias, tomando o posto do uruguaio Obdúlio Varela. Por outro lado, esse gol levou a França a igualar a segunda pior marca em gols sofridos de pênalti até então, com 6 gols. Atualmente, a França tem a terceira pior marca. O gol de Florent Malouda na derrota por 2 x 1 para a África do Sul evitou o vexame de deixar o torneio sem marcar nenhum gol sequer, assim como ocorreu em 2002. Porém, a 29° colocação foi a pior de sua história, atrás até do 28° de 2002, onde as participações das outras seleções impediram um desastre ainda maior. Já a anfitriã África do Sul tornou-se o primeiro país-sede a ver sua seleção deixar a Copa já na Primeira Fase. No jogo da segunda rodada, quando foi derrotada por 3 x 0 pelo Uruguai, o segundo gol uruguaio, marcado pelo jogador Diego Forlán na cobrança de pênalti, foi o 3º gol sofrido pelos sul-africanos em cobrança de pênaltis na História das Copas, igualando o recorde negativo de Camarões e Senegal entre os africanos.

Pelo Grupo B, o jogo de estreia desse grupo igualou a marca do México, tanto com o Brasil, em 1962, quanto com a Alemanha, em 1998, ao se repetir pela terceira vez consecutiva com a participação de uma seleção não pertencente ao eixo Europa/América do Sul, na vitória da Argentina sobre a Nigéria por 1 x 0, tendo os argentinos igualados os brasileiros nesse quesito com três vitórias. Ainda na primeira rodada, os sul-coreanos venceram a Grécia por 2 x 0 e o gol que encerrou a vitória para a Coreia do Sul saiu dos pés de Park Ji-Sung, que se tornou o segundo jogador asiático marcar gols em três Copas diferentes, já tendo marcado em 2002 e 2006. Ji-Sung também se tornou o jogador asiático com mais vitórias na História das Copas, tendo vencido 5 jogos durante sua trajetória. A Grécia venceu seu primeiro jogo e fez seu primeiro gol em Copas na vitória sobre a Nigéria, 2 x 1, quebrando uma sequência de 4 jogos sem marcar pontos e sem marcar gols desde a estreia, a terceira pior marca em pontos e a segunda pior marca em gols da História das Copas, juntamente a Bélgica e Bolívia. Ainda pela segunda rodada, o gol que abriu para os argentinos na goleada por 4 x 1, foi marcado contra pelo sul-coreano Park Chu-Young, o 2º gol contra dessa seleção na História das Copas, atingindo a segunda pior marca, atrás apenas do México e da Espanha, com 3 gols contra. A Coreia do Sul conseguiu sua primeira classificação para a fase seguinte fora de seus domínios graças ao empate em 2 x 2 com a Nigéria na última rodada. Nas outras sete Copas disputadas pelos sul-coreanos, apenas quando foram os anfitriões junto com o Japão é que conseguiram tal feito. Foi a quinta vez em que o placar de 2 x 2 teve participação de uma seleção asiática, o maior empate para o continente asiático na História das Copas. O gol que empatou em 1 x 1 o jogo para os sul-coreanos foi marcado pelo jogador Lee Jung-Soo, tornando-se o sexto jogador asiático a alcançar a marca de 2 gols em uma edição de Copa do Mundo.

Pelo Grupo C, a Eslovênia venceu seu primeiro jogo no 1 x 0 sobre a Argélia, que também foi derrotada pelos EUA pelo mesmo placar, tornando-se a primeira vitória de uma seleção da Concacaf sobre uma seleção africana. Sem marcar gols nessa Copa e somando os dois últimos jogos da Copa de 1986, quando também não marcou gols, a Argélia igualou a Bolívia com a pior sequência de jogos sem marcar gols, com 5 jogos sem balançar as redes adversárias.

O Grupo D foi repleto de fatos importantes. Na primeira rodada, a vitória dos alemães por 4 x 0 sobre a Austrália foi a maior goleada sofrida por uma seleção da Oceania na História das Copas, igualando o placar da derrota da Nova Zelândia para o Brasil, em 1982. Na derrota da Alemanha para a Sérvia por 1 x 0, essas seleções igualaram o recorde de confronto em Copas, pertencente ao confronto Brasil x Suécia, com sete jogos – 1954, 1958, 1962, 1974, 1990, 1998 e 2010, sendo quatro vitórias alemãs, um empate e duas vitórias dos sérvios, que assumiram o lugar nas estatísticas da dividida Iugoslávia. Também teve o privilégio de sediar o primeiro confronto e o primeiro empate entre um selecionado africano e uma seleção da Oceania, Gana 1 x 1 Austrália, onde ocorreram os primeiros gols de um continente sobre o outro. O australiano Brett Holman, ao abrir o placar, marcou o primeiro gol de uma seleção da Oceania sobre uma seleção africana e o ganês Asamoah Gyan, ao empatar o jogo em cobrança de pênalti, marcou o primeiro gol de uma seleção africana sobre uma seleção da Oceania. Além disso, por ter marcado também em cobrança de pênalti o gol de Gana na vitória por 1 x 0 sobre a Sérvia, na primeira rodada, Gyan tornou-se o primeiro jogador africano a marcar 2 gols de pênalti em uma Copa e colaborou para colocar Gana como a seleção africana que mais marcou gols de pênaltis em Copas, com 3 gols, somando ao gol de Stephan Apiah, em 2006, sobre os EUA. A Austrália também alcançou a primeira vitória da Oceania sobre uma seleção europeia, nos 2 x 1 sobre a Sérvia, jogo em que o segundo gol australiano ao abrir 2 x 0, marcado novamente pelo jogador Brett Holman, também foi o seu 2º gol na Copa, igualando a marca de outro australiano, Tim Cahill, como o maior artilheiro de uma seleção da Oceania em uma Copa. Apesar da derrota para a Servia, a Alemanha alcançou a classificação e se manteve como a única seleção a ter passado da Primeira Fase em todas as Copas em que disputou até então. Aliás, desde sua ausência, em 1950, foram, até esse torneio, 15 Copas em que a Primeira Fase não manda os alemães de volta para casa. Depois deles, o Brasil, que passa de fase desde 1970 e o México, que repete o feito desde 1994, são os que têm o melhor desempenho atualmente nesse quesito.

Gana conseguiu salvar a participação de seleções africanas, num torneio meio às avessas para o continente sede. Normalmente, nas outras quatro Copas não realizadas no eixo Europa/América do Sul, as seleções dos continentes sede se deram melhor. O México conseguiu suas melhores classificações quando jogou em casa e apenas conseguiu passar de fase novamente a partir da Copa que foi disputada nos Estados Unidos, torneio em que os donos da casa também reencontraram o caminho da classificação na Primeira Fase depois de só conseguirem isso na primeira edição, em 1930. Lembrando que, na Ásia, japoneses e coreanos, anfitriões do torneio de 2002, passaram de fase pela primeira vez em suas histórias, fato que ambas conseguiram repetir só em 2010. A classificação dos ganeses apenas repete o retrospecto que as seleções africanas têm desde 1986, com a passagem de uma única seleção para representar o continente nas fases de “mata-mata”.

Um capítulo a parte nesse Grupo D foi o jogo Alemanha 1 x 0 Gana. Em campo, Jérome Boateng, jogador da seleção alemã enfrentou Kevin-Prince Boateng, jogador ganês e seu meio irmão. Pela primeira vez na história das Copas, o fato de dois irmãos estarem em campo, que já é relativamente raro quando acontece em uma única seleção, ocorreu com cada um deles em seleções adversárias.

A classificação do Japão pelo Grupo E, repetindo o feito da Coreia do Sul, ao vencer a Dinamarca por 3 x 1, teve início no gol do jogador Keisuke Honda, seu 2º gol nessa Copa, tornando-se o sétimo jogador asiático a igualar essa marca, dois dias depois do sul-coreano Lee Jung-Soo. Essa também foi a maior vitória de uma seleção asiática na História das Copas. Na última rodada, a vitória por 2 x 1 da Holanda sobre Camarões marcou a despedida do jogador Rigobert Song, o primeiro jogador africano a disputar jogos em 4 Copas diferentes, uma vez que havia jogado em 1994, 1998 e 2002.

Pelo Grupo F, a Nova Zelândia fez seu primeiro ponto no empate em 1 x 1 com a Eslováquia. Nesse jogo, o jogador neozelandês Chris Wood, com 18 anos e 190 dias, tornou-se o jogador da Oceania mais jovem a entrar em campo em uma Copa do Mundo, enquanto que seu companheiro de equipe Winston Reid, com 22 anos e 12 dias, marcou o gol de empate nos acréscimos da partida, tornando-se o mais jovem jogador da Oceania a marcar gol em Copas. No empate com a Itália, pela segunda rodada, o gol de abertura do placar, marcado pelo jogador neozelandês Shane Smeltz um pouco depois dos 7 minutos de jogo foi o gol mais rápido de uma seleção da Oceania em Copas. A Eslováquia, em sua estreia, também fez seu primeiro ponto e primeiro gol nesse jogo e foi além; venceu sua primeira partida em Copas ao derrotar a Itália por 3 x 2, classificando-se para as Oitavas de Final e mandando de volta para casa a atual campeã mundial em sua pior participação da história: 26° lugar. A Itália tinha como pior participação até então um 15° lugar, em 2002 e repetiu a decepção que já havia experimentado em 1950, aqui no Brasil, quando se tornou a primeira seleção campeã a deixar o torneio ainda em sua fase de início. Posteriormente, o Brasil, em 1966, e a França, em 2002, sentiram o amargo gosto da desclassificação precoce de uma seleção que defendia o título de campeã. Era o prenúncio de um período muito difícil para a seleção italiana, que também não passou da Primeira Fase na Copa seguinte, em 2014, e sequer conseguiu a classificação para a Copa de 2018. Com a desclassificação de Itália e França, pela primeira vez na história das Copas, campeão e vice-campeão do torneio anterior deixavam o torneio atual ainda na Primeira Fase. Paraguai e Eslováquia também protagonizaram o confronto de número 200 entre europeus e sul-americanos na história das Copas, jogo que acabou 2 x 0 para os paraguaios. Na última rodada, o empate em 0 x 0 entre Paraguai e Nova Zelândia marcou a despedida do jogador paraguaio Denis Caniza, o oitavo jogador sul-americano a jogar em 4 Copas. Ao final dos jogos deste Grupo, a Nova Zelândia juntou-se ao rol de seleções que são desclassificadas de uma Copa de forma invicta, com três empates, também numa Copa onde o campeão não terminou invicto, juntando-se a um seleto grupo de seleções (Escócia, em 1974, Brasil em 1978, Camarões e Inglaterra em 1982, Brasil e México em 1986, Itália em 1990, Itália e Bélgica em 1998, Espanha e Eire em 2002, França, Argentina, Inglaterra e Suíça em 2006). Foi a maior sequência de invencibilidade de uma seleção da Oceania na História das Copas. Por outro lado, os três empates registraram para os neozelandeses a maior sequência negativa de uma seleção da Oceania, com 6 jogos sem vitórias, desde estreia, em 1982.

Pelo Grupo H, no jogo Suíça 1 x 0 Espanha, a seleção suíça igualou o recorde da seleção italiana, ficando 5 jogos consecutivos sem sofrer gols. No jogo seguinte, contra o Chile, ao conseguir segurar o 0 x 0 no placar até os 30 minutos do segundo tempo, quando sofreu o gol chileno, ampliou o recorde de minutos que pertencia a Itália de 551 para 559 minutos sem ser vazado. Ainda assim, como foram dois goleiros distintos da Suíça, o recorde de tempo que um goleiro ficou sem ser vazado ainda pertence a Walter Zenga, da Itália, com 551 minutos. Essa derrota na estreia da Espanha contra a Suíça, também marcou o 50º jogo dos espanhóis em Copas.

As Oitavas de Final iniciaram com um dado importante. Foi o menor número de europeus classificados para uma oitava de final desde a instituição dessa fase, em 1986. Naquele ano, os europeus haviam classificado 11 equipes e nos anos seguintes, 10 equipes, à exceção de 2002, com 9 seleções classificadas. Nesta Copa foram apenas 6, numa mostra clara do declínio temporário deste continente, coincidentemente emparceirados em três jogos, o que lhes garantia a classificação de 3 seleções para as Quartas de Final, um número também inferior ao de todas as outras Copas. Por outro lado, os sul-americanos classificaram todos os 5 participantes, sendo que 4 deles terminaram a Primeira Fase como líderes do grupo em que estavam. Também foi igualado o número de seleções fora do eixo Europa/América do Sul classificados para as Oitavas de Final: Gana, Japão, EUA, México e Coreia do Sul, sendo que os asiáticos igualavam o feito conseguido em seus domínios, em 2002, com as mesmas seleções daquela Copa.

O Brasil encarou o Chile no duelo sul-americano desta fase. Era a segunda vez que os chilenos chegavam às Oitavas de Final e novamente encaravam os brasileiros, assim como havia acontecido em 1998. O Brasil venceu novamente, desta vez com um placar de 3 x 0. O segundo gol brasileiro, marcado pelo jogador Luis Fabiano, foi o 10º gol brasileiro sobre os chilenos na História das Copas. Com uma vitória fácil e um bom futebol apresentado, os brasileiros se classificaram para enfrentar nas Quartas de Final a Holanda, repetindo o duelo de 1994. Os holandeses desclassificaram a Eslováquia ao vencer por 2 x 1.

Alemanha e Inglaterra igualavam o recorde de Brasil e Itália ao protagonizarem o quinto confronto em Copas sem que nenhum deles tivesse ocorrido na Primeira Fase. E a vitória por 4 x 1 dos alemães aconteceu sobre intensa polêmica, após o árbitro Jorge Larrionda não validar o gol que empataria a partida em 2 x 2, em que o inglês Frank Lampard acerta um belo chute que bateu no travessão e tocou no chão visivelmente dentro do gol. Foi uma reedição às avessas do que ocorreu na final de 1966, quando os ingleses fizeram seu terceiro gol num lance semelhante e que muitos afirmam que a bola não havia entrado, levando a Inglaterra ao título daquele torneio. De qualquer forma, a vitória alemã foi o pior placar imposto aos ingleses, que nunca haviam sofrido derrotas superiores a dois gols de diferença. Aliás, sua maior vitória em Copas também é de três gols de diferença, e a pior participação deles em uma Copa: 13° lugar. O gol inicial da partida, anotado por Miroslav Klose, foi o de número 700 nos confrontos entre europeus e o gol que fechou o placar para os alemães foi o 10º gol dos alemães sobre os ingleses na História das Copas.

México e Argentina repetiram um dos confrontos das Oitavas de Final de 2006. E em mais um jogo com erros de arbitragem, a Argentina superou novamente os mexicanos, pela quinta Copa consecutiva desclassificado nessa fase. O segundo gol argentino, marcado pelo jogador Gonzalo Higuain, foi o 10º da Argentina sobre o México na História das Copas. A vitória por 3 x 1 classificou os argentinos para as Quartas de Final, onde aconteceu uma nova coincidência: enfrentar a Alemanha, repetindo também o confronto dessa mesma fase em 2006.

O Paraguai conseguiu, pela primeira vez, alcançar as Quartas de Final de uma Copa. Somente em 1930, quando o torneio era disputado em outro formato, onde apenas o primeiro colocado de cada grupo da Primeira Fase classificava-se diretamente para as Semifinais, a seleção paraguaia conseguiu terminar na 8ª posição.

Já a Espanha mandou Portugal para casa, uma equipe que teve participação antagônica na Copa, graças ao excesso de defensividade: aplicou a maior goleada do torneio, 7 x 0 sobre a Coreia do Norte, mas não marcou gol em nenhum outro jogo, empatando em 0 x 0 com Costa do Marfim e Brasil, na Primeira Fase, e sendo desclassificada pelos espanhóis por 0 x 1 nas Oitavas de Final.

O Uruguai, ao vencer a Coreia do Sul por 2 x 1, voltava a disputar uma Quarta de Final de Copa 40 anos depois de sua última passagem por essa fase, em 1970. A Coreia do Sul chegou a empatar o jogo em 1 x 1, com o gol do jogador Lee Chung-Yong, seu 2º nessa Copa, o oitavo jogador asiático a igualar a marca e o terceiro só nessa Copa.

Gana igualou o feito de Camarões, em 1990, e Senegal, em 2002, com uma vitória por 2 x 1 sobre os EUA, também alcançando as Quartas de Final de uma Copa, nos três casos, com as seleções africanas participando de duas prorrogações durante a Copa, e salvando o continente anfitrião de uma participação sem brilho, desclassificando os EUA, que alternam classificação para as Oitavas de Final e desclassificação na Primeira Fase desde 1990. O gol que empatou o jogo em 1 x 1, marcado pelo jogador norte-americano Landon Donovan, foi o seu 5º gol na História das Copas, tornado-se o maior artilheiro entre as seleções da Concacaf.

Nas Quartas de Final, 4 seleções sul-americanas chegaram entre as oito classificadas, a segunda melhor marca sul-americana da História das Copas, atrás apenas da primeira Copa, em 1930, quando não havia a disputa dessa fase e foi a única vez em que o rol dos oito primeiros colocados tinha, em sua maioria, seleções sul-americanas.. Por outro lado, a Europa chegava com apenas 3 seleções, a segunda pior marca, também à frente apenas de 1930.

Era hora de o Brasil enfrentar a temida Holanda. Mesmo tendo jogado um primeiro tempo de amplo domínio, o Brasil foi para o intervalo com apenas 1 x 0 no placar. Na volta para o segundo tempo, numa bola levantada na área brasileira, o jogador Felipe Mello resvala na bola e, aliado à falha do goleiro Júlio César, a seleção acaba por sofrer o gol de empate. Na súmula, o árbitro considerou gol de Wesley Sneijder, uma vez que a bola ia em direção ao gol. O empate deixou o time brasileiro sem ação e os holandeses se aproveitaram disso para virar o jogo, novamente com Sneijder. Esse novo golpe, aliado a expulsão desnecessária de Felipe Mello, deixou claro que o Brasil já não tinha forças para reagir e deu adeus a Copa, mais uma vez nas Quartas de Final. A Holanda prosseguia.

A campanha dos brasileiros assemelhou-se muito à Copa anterior: Título de campeão da Copa América, Título de campeão do Copa das Confederações, classificação antecipada e liderança nas eliminatórias e queda na mesma fase da Copa do Mundo. A Holanda chegou às Semifinais tornando-se uma das cinco seleções com melhor retrospecto que o Brasil nos confrontos, além de França, Hungria, Noruega e Portugal.

Num jogo dramático, o Uruguai deu mais um passo e também voltou a disputar uma Semifinal depois de 40 anos. Gana, o último representante do continente anfitrião, teve nos pés a chance de fazer história e se tornar o primeiro país africano numa Semifinal quando o atacante uruguaio Suarez impediu com as mãos o gol que daria vitória aos africanos no último minuto do segundo tempo da prorrogação. Asamoah Gyan, um dos principais jogadores ganeses, chutou o pênalti no travessão encerrando a partida em 1 x 1. O Uruguai, apesar de tradicional, enfrentava sua primeira disputa de vaga por pênaltis e Gana se tornava a primeira seleção africana nesse tipo de disputa. E os sul-americanos levaram a melhor. Aos ganeses restou o consolo de igualar a melhor participação em Copas de um selecionado africano: 7° lugar, assim como Camarões em 1990 e Senegal em 2002.

Argentinos e alemães entraram em campo para se enfrentarem pela sexta vez na História das Copas. Só perdiam em número de confrontos para Brasil x Suécia e para o confronto que igualou o recorde nesta Copa entre Alemanha x Sérvia, ambos com sete jogos. O experiente time comandado pelo técnico Diego Maradona queria dar o troco da eliminação na Copa passada nesta mesma fase. Mas o fascinante time de jovens alemães, comandado pelo revolucionário técnico Joachim Löw, goleou a Argentina por 4 x 0 com um “show de bola” poucas vezes visto vindo de um selecionado alemão, num futebol envolvente e objetivo. Três gols fizeram história nesse jogo: o primeiro gol, novamente do jovem Thomas Müller, foi o de número 200 da Alemanha em Copas; o terceiro gol, do jogador Ernie Friedrich, foi o 10º gol alemão sobre os argentinos; e o quarto gol, do veterano Miroslav Klose, foi seu 14° em Copas, igualando seu compatriota Gerd Müller (1970/1974) como segundo maior artilheiro de todos os tempos, perdendo apenas para o brasileiro Ronaldo Fenômeno, que roubou o título do alemão Müller na Copa passada ao marcar seu 15° gol na História das Copas.

No último jogo das Quartas de Final, a Espanha venceu o Paraguai por 1 x 0, num jogo em que ambas as seleções desperdiçaram um pênalti. Foi a melhor participação do Paraguai, que alcançou o 8° lugar numa Copa com 32 seleções, a mesma colocação de 1930, quando estiveram em campo apenas 13 países.

E a superioridade sul-americana nas Oitavas de Final reverteu-se nas Quartas de Final, classificando todos os três europeus, que ganharam a vaga justamente sobre os sul-americanos, deixando apenas o Uruguai como representante da América do Sul, graças ao pênalti no último minuto da prorrogação desperdiçado por Gana.

As Semifinais reuniram duas seleções já detentoras de títulos enfrentando duas que ainda não haviam ganho uma Copa. Na primeira delas, duas seleções que buscavam sua terceira final de Copa do Mundo, com históricos opostos: o Uruguai, bicampeão em 1930 e 1950, e a Holanda, duas vezes vice-campeã, em 1974 e 1978. Numa partida cheia de possibilidades de ambos os lados, os holandeses venceram por 3 x 2, após um empate em 1 x 1 no primeiro tempo e de um sufoco dos sul-americanos em busca do empate nos últimos minutos do jogo, após estarem perdendo por 1 x 3. O terceiro gol holandês, inclusive, foi o gol de número 2.200 na História das Copas e foi anotado pelo jogador Arjen Robben. E o gol uruguaio, que deu números finais ao jogo, marcado pelo jogador Maxi Pereira, foi o gol de número 300 de uma seleção sul-americana sobre uma seleção europeia.

Na outra Semifinal, os alemães não conseguiram repetir o futebol que havia encantado os torcedores nessa Copa e a Espanha conseguiu derrotá-los por 1 x 0, tornado essa final a primeira entre seleções não campeãs desde 1978, quando a mesma Holanda, adversária dos espanhóis na decisão, perdeu para a anfitriã Argentina. Além de novo campeão, também teríamos o primeiro país europeu a conquistar um título fora de seu continente.

Na disputa do terceiro lugar, mais uma coincidência para os uruguaios com a Copa de 1970. Assim como naquela Copa, seus adversários eram os alemães e assim como naquela Copa, o selecionado europeu saiu vitorioso, desta vez num empolgante 3 x 2, onde os vencedores abriram o placar, sofreram a virada dos uruguaios e novamente viraram o jogo ao seu favor, dando números finais à partida e à participação das duas seleções em terras africanas.

O estádio Soccer City, em Joanesburgo, foi palco do espetáculo final dessa Copa. Num jogo bastante movimentado e com chances reais de gol criadas por ambas as seleções, os goleiros brilharam e o tempo regulamentar acabou em 0 x 0, exigindo mais 30 minutos para decidir quem seria o novo integrante do rol dos campeões mundiais. A prorrogação começou tão corrida quanto o tempo normal, com uma leve superioridade dos espanhóis, assim como havia acontecido no jogo. Mas quando tudo levava a crer que teríamos mais um título decido nos pênaltis, um gol de Iniesta, aos 11 minutos do segundo tempo da prorrogação, deu o primeiro título à Espanha e o terceiro vice-campeonato aos holandeses, única seleção não campeã a alcançar três finais e ter tal retrospecto. A Holanda também encerrava sua 4ª participação em prorrogações sem nunca ter marcado um gol sequer no tempo extra.

O futebol pragmático de domínio de bola dos espanhóis, temperado com qualidade técnica e habilidade de parte de seus jogadores, levou a fúria, que tantas Copas chegou como promessa de título, ao seu primeiro campeonato e tornou-se a quarta campeã mundial que não terminou o torneio invicta, assim como aconteceu com a Alemanha, nas Copas de 1954 e 1974, e com a Argentina, em 1978. Seu técnico, Vicente Del Bosque, em contraste com o novo continente e o novo campeão, tornou-se o mais velho treinador a levar uma seleção ao título, com 60 anos completos, superando o alemão Helmut Schön, em 1974, e o técnico campeão anterior, o italiano Marcello Lippi, até então segundo mais velho a vencer uma Copa do Mundo. Com quatro resultados seguidos de 1 x 0 desde as Oitavas de Final, a Espanha se tornou a décima terceira seleção a igualar a sequência de 4 jogos sem sofrer gols, a segunda melhor marca da História das Copas.

Vale lembrar que a Holanda havia chegado à Copa com 8 vitórias em 8 jogos das eliminatórias e chegou à final dessa Copa com vitória em todos os 6 jogos anteriores. Se vencessem a final, os holandeses igualariam o feito do Brasil de 1970, que venceu todos os jogos das eliminatórias e da fase final da Copa para chegar ao título do torneio. As 6 vitórias consecutivas no torneiro igualaram pela quarta vez a terceira melhor marca da História das Copas.

Um fato muito curioso foi que, nessa Copa, quatro jogadores terminaram como artilheiros: David Villa, Wesley Sneijder, Thomas Müller e Diego Forlan. Coincidentemente, os quatro pertencentes às quatro primeiras colocadas da Copa. Era apenas a 5ª vez na história das Copas em que o artilheiro, ou um dos artilheiros, neste caso, pertencia a seleção campeã. O número de gols, no entanto, era tão baixo quanto o da Copa passada: apenas 5. Coube ao selecionado alemão, pela terceira vez em Copas, o melhor ataque com 16 gols em 7 jogos, alcançando, pela primeira vez na história esse título de forma consecutiva.

Com somente 145 gols, a primeira Copa em terras africanas acabou com a segunda pior média da história, com apenas 2,27 gols por jogo. Também foi o pior ataque de um campeão na História das Copas, com apenas 8 gols em 7 jogos. Nem mesmo nas Copas em que o campeão disputou 4 ou 5 jogos foram marcados tão poucos gols como neste título espanhol. Mais do que isso, a Copa teve 7 resultados 0 x 0, a segunda pior marca da história, igualando 1982, com o detalhe de que 6 desses resultados ocorreram na Primeira Fase, um recorde negativo. Também teve o recorde de 1 x 0, com 17 jogos terminando com esse placar, o mais repetido em uma edição de Copa do Mundo.