História da Copa do Mundo de 1974

Alemanha Ocidental, 1974 – Alemães repetem 1954

Com a conquista definitiva da taça JULES RIMET pelo Brasil, em 1970, a FIFA necessitava de um novo troféu para presentear os campeões mundiais. No dia 6 de janeiro de 1971, a FIFA organizou um concurso para definir como seria a nova taça. Em 5 de abril do mesmo ano, após analisar 53 ideias, foi dado como vencedor o projeto do italiano Silvio Gazanniga. O troféu foi chamado Copa FIFA.

Para a disputa do novo troféu o palco seria a Alemanha. O número de inscritos, por muito pouco, não chegou a uma centena. Eram 99 seleções disputando o direito de jogar em gramados alemães. Os classificados foram: Argentina, Brasil, Chile e Uruguai, pela América do Sul; o estreante Haiti, pela Concacaf; o estreante Zaire, pela África; a estreante Austrália, pela Oceania; e Alemanha Ocidental, Bulgária, Escócia, Holanda, Itália, Iugoslávia, Polônia, Suécia e a estreante Alemanha Oriental, pela Europa. Com um número alto de estreias, a Copa se iniciava com 4 estreantes, 6 seleções que retornaram após a ausência em Copas anteriores e 4 seleções que participaram de forma consecutiva.

O torneio mudou de regra, novamente. A Primeira Fase continuou sendo disputada em quatro grupos com quatro seleções, jogando entre si no mesmo grupo e classificando as duas primeiras para a fase seguinte. A inovação aconteceu a partir deste ponto. Em vez de termos as Quartas de Final e as Semifinais, as oito seleções classificadas foram divididas em dois grupos de quatro seleções, classificando a primeira colocada de cada grupo para a final e a segunda colocada de cada grupo para a disputa do terceiro lugar.

Com poucos jogadores que restavam da geração campeã, apenas Piazza, Jairzinho e Rivelino, o Brasil parte para a Alemanha tentando repetir o feito da Copa anterior e conquistar seu primeiro título na era do novo troféu. O novo selecionado não tinha o mesmo brilho de 1970. Isto ficou evidente nos dois primeiros jogos. No jogo de abertura, pela primeira vez com a participação do campeão da edição anterior, o Brasil enfrentou a Iugoslávia. Era a primeira vez que um confronto se repetia quatro vezes em Copas diferentes. Antes de 1974, o Brasil já havia enfrentado a Iugoslávia em 1954, 1958 e 1962. No caso de 1974, o placar final foi um fraco 0 x 0. O mesmo placar em 0 x 0 ocorreu no segundo jogo da seleção, contra a Escócia. No último jogo da Primeira Fase, aquele que marcou o primeiro confronto do Brasil com um país Africano em Copas, precisávamos vencer a seleção do Zaire por três gols de diferença para passar a fase seguinte. E foi só isso que aconteceu; Brasil 3 x 0 Zaire, com direito à primeira vitória e ao primeiro gol brasileiro sobre uma seleção africana, anotado por Jairzinho, ao abrir o placar para o Brasil. Com esse resultado, a Escócia tornou-se a primeira seleção a ser eliminada de uma Copa de maneira invicta, curiosamente numa Copa onde o campeão não conseguiu tal feito. Outro fato interessante desse Grupo foi a vitória da Iugoslávia sobre o Zaire por 9 x 0, o maior placar desta Copa, igualando-se ao recorde da Hungria, de 1954. É, também, a maior derrota e o jogo com o maior número de gols de uma seleção africana em Copas.

Pelo Grupo A, no jogo de estreia dos australianos, a Alemanha Oriental, através do gol contra do jogador australiano Colin Curran na abertura do placar, anotou o primeiro gol contra de uma seleção da Oceania, gol também que foi o primeiro anotado por uma seleção europeia contra uma seleção da Oceania. No entanto, o primeiro jogador europeu a marcar um gol numa seleção da Oceania foi o alemão oriental Joachin Streich, autor do segundo gol da partida. Foi o primeiro confronto em Copas de uma seleção europeia com uma seleção da Oceania e a primeira vitória dos europeus sobre a Oceania. Além disso, a Austrália era o primeiro país da Oceania a disputar uma Copa e o primeiro a pontuar, no empate em 0 x 0 com o Chile, obtendo a melhor classificação de uma seleção daquele continente até agora: 14º lugar. Esse jogo também foi o primeiro confronto e o primeiro empate entre seleções sul-americanas e da Oceania.

Pelos Grupos C e D, os jogos Polônia 2 x 1 Itália e Holanda 4 x 1 Bulgária marcavam os confrontos de número 100 e 101 entre europeus na história das Copas. Os holandeses, através do jogador Johan Neeskens, marcaram 2 gols através de penalidades máximas, igualando a marca de gols de pênalti em uma mesma partida do alemão Fritz Gerald, em 1954, e do português Eusébio, em 1966. O gol da Bulgária, no entanto, foi contra, marcado pelo holandês Rud Krol. Nesse mesmo dia, um pouco mais tarde pelo Grupo D, o jogador argentino René Houseman, autor do segundo gol argentino e do jogo contra o Haiti, anotava o gol de número 900 da História das Copas, no jogo que terminaria 4 x 1 para a Argentina. Já pelo Grupo C, a seleção sueca terminava a Primeira Fase com uma vitória e dois empates, mas sem sofrer gols. Somados ao último jogo da Suécia na Copa anterior, contra Uruguai, também sem ser vazada, tornava a seleção sueca a terceira a alcançar a marca de 4 jogos sem sofrer gols, juntando-se a Brasil, em 1958, e Inglaterra, em 1966. Diferente dos dois primeiros, porém, é que em 1970, o goleiro sueco era Sven-Gunnar Larsson, enquanto que em 1974, o goleiro era Ronnie Hellstrom. Por outro lado, o jogo inicial dessa sequência, em 1970, foi contra a seleção uruguaia, assim como o jogo final, em 1974.

Na fase seguinte enfrentamos a Alemanha Oriental e a Argentina, além da fortíssima Holanda, conhecida como “Carrossel Holandês” ou “Laranja Mecânica”, do estrategista Rinus Mitchel, capitaneada por Cruyff. No outro grupo, a anfitriã enfrentou as seleções europeias da Iugoslávia, Polônia e Suécia.

Provavelmente um pouco mais calma, a seleção brasileira estreou a fase derrotando a Alemanha Oriental por 1 x 0, enquanto a Holanda goleava a Argentina por 4 x 0. A vitória brasileira também igualava a sequência de 1958, com quatro jogos em sofrer gols, dessa vez defendido pelo goleiro Emerson Leão. Era a segunda seleção nessa Copa a alcançar tal marca e a quarta na História das Copas. No segundo jogo, contra a Argentina, nova vitória brasileira, 2 x 1, e novo triunfo holandês, 2 x 0 sobre a Alemanha Oriental. Contra os argentinos, o gol que empatou o jogo para a Argentina, do jogador Miguel Ángel Brindisi, foi o número 50 sofrido pelo Brasil em Copas e o gol que deu a vitória ao Brasil foi do jogador Jairzinho, seu 9º gol na História das Copas, igualando Vavá como o 3º maior goleador brasileiro em Copas. Finalmente, o Brasil jogaria contra a Holanda para definir quem passaria à final e quem disputaria o terceiro lugar. O time desconhecido pelo técnico brasileiro, segundo declarações suas, por sua falta de tradição, arrebatou a vaga para a final, vencendo o Brasil por 2 x 0, gols de Neeskens e Cruyff. Foi o fim de uma invencibilidade de 11 jogos da seleção brasileira, com os 5 jogos iniciais dessa Copa e os 6 jogos da Copa anterior, a segunda melhor marca, atrás apenas da alcançada na estreia da Copa de 1966. Também como em 1966, os dois jogos finais do Brasil na Copa, com duas derrotas seguidas, igualaram a pior sequência de jogos sem marcar pontos na História das Copas. Os 2 jogos iniciais, assim como os 2 jogos finais da Copa de 1974 sem que a seleção marcasse sequer um gol foram as únicas duas vezes na História das Copas em que nossa seleção passou em branco por tanto tempo.

Do outro lado, a Alemanha Ocidental, capitaneada por Beckenbauer e num grupo apenas com seleções europeias, venceu todos os seus oponentes e chegava a final, deixando à Polônia o segundo posto do grupo e o direito à disputa do 3º lugar. A vitória por 2 x 0 dos alemães sobre os iugoslavos igualava o recorde atingido pelos próprios iugoslavos no confronto com o Brasil, na Primeira Fase dessa Copa, ao se repetir pela quarta vez em Copas distintas.

Na disputa do terceiro lugar, o Brasil foi derrotado pela Polônia por 1 x 0, terminado no 4º posto. A seleção polonesa terminava a Copa como o melhor ataque, 16 gols em 7 jogos, tendo conseguido, nesta Copa, sua melhor colocação e a maior goleada de sua história: 7 x 0 sobre o Haiti. O polonês Lato foi o artilheiro do torneio com 7 gols.

A Partida Final muito lembrava 20 anos atrás, quando a mesma Alemanha Ocidental enfrentou outra seleção com táticas revolucionárias no futebol, a Hungria.

A grande Decisão seria realizada no estádio Olímpico, em Munique. Já no início do jogo, Cruyff se enfia na área e sofre pênalti, marcado pelo árbitro da partida, o inglês Jack Taylor. Neeskens cobra e abre o placar, marcando seu terceiro gol de pênalti nessa Copa, a segunda melhor marca da História das Copas. Este aliás, foi o primeiro gol de pênalti marcado em uma final de Copa do Mundo. O grande goleiro Sepp Mayer nada pode fazer. Apesar de atordoada com o fascinante começo de jogo da Holanda, a seleção alemã consegue chegar ao empate, também de pênalti, o segundo em finais e o de número 50 em Copas, sofrido e convertido por Paul Breitner. Ainda no primeiro tempo, mais uma vez, como em 1954, a Alemanha conseguiu virar o marcador com um gol de Müller, no 100º gol alemão da História das Copas. Com esse gol, o alemão Gerd Müller, artilheiro da Copa anterior com 10 gols, chegava a marca de 14 gols, recorde de gols marcados por um jogador no decorrer das Copas que duraria até 2006.

Mais uma vez a truculência alemã derrotava a arte. Mais uma vez, a Alemanha chegava ao título sem manter a invencibilidade durante a Copa, pois perdera para a Alemanha Oriental por 0 x 1 na Primeira Fase. Helmut Schön, aos 59 anos, tornava-se o técnico mais velho a levar uma seleção ao título, sendo superado somente em 2010, pelo técnico espanhol. E o jogador alemão Wolfgang Overath alcançava o recorde até então de 15 vitórias em jogos de Copas do Mundo, atualmente a terceira melhor marca da História das Copas.

Ao final da terceira derrota do futebol arte em Copas, um total de 38 jogos, com 97 gols marcados, gerando a média mais baixa dos dez primeiros mundiais: 2,55 gols por jogo. Também tivemos o maior número de jogos terminados em 0 x 0 até então, com 5 partidas encerradas com esse placar.