História da Copa do Mundo de 1978

Argentina, 1978 – A Argentina no rol dos campeões

Pela primeira vez na história das Copas o número de seleções inscritas ultrapassou a 100. Precisamente, 107 seleções se inscreveram para o torneio, o último com a participação de 16 seleções. E os 16 países que se classificaram foram: Argentina, Brasil e Peru, pela América do Sul; México, pela Concacaf; a estreante Tunísia, pela África; o estreante Irã, pela Ásia; e Alemanha Ocidental, Áustria, Escócia, Espanha, França, Holanda, Hungria, Itália, Polônia e Suécia, pela Europa. Era a primeira Copa que a Europa não estreava nenhuma seleção em Copas. Foram 2 estreantes, 6 seleções que retornaram após a ausência em Copas anteriores e 8 seleções que participaram de forma consecutiva.

O torneio seguia os mesmos moldes de 1974, numa Argentina cercada pelo medo do terrorismo contra a ditadura do Governo. Uma trégua, porém, foi acordada entre guerrilheiros e o exército, durante a Copa.

O Brasil caminhava para Copa com um novo técnico, o teórico Cláudio Coutinho. Autor de expressões pouco convencionais para o futebol da época, Coutinho, preparador físico que compôs a delegação de 1970 e 1974, tinha como missão apagar o fracasso de 1974. Com uma seleção bastante renovada, já que apenas o veterano Rivelino representava a seleção tricampeã, em 1970, o Brasil estreou contra a Suécia, num jogo terminado em 1 x 1. No final da partida, porém, Zico anotou um gol de cabeça, após cobrança de escanteio, não considerado pelo árbitro, alegando que o jogo havia se encerrado com a bola no ar. No segundo jogo enfrentamos a Espanha e, desta vez, não saímos do 0 x 0. A Áustria, por sua vez, venceu seu segundo jogo consecutivo. A sequência de 2 jogos sem vitória no final da Copa de 1974 e esses 2 jogos de abertura dessa Copa tornou-se a pior sequência sem vitórias do Brasil em Copas, com 4 jogos sem vencer. No jogo decisivo, justamente contra a Áustria, o Brasil necessitava de dois gols a mais para terminar em primeiro. Não conseguimos. Final da partida, Brasil 1 x 0 Áustria, com o selecionado brasileiro ficando em segundo lugar no grupo.

O forte Grupo A, composto pela anfitriã Argentina, além de Itália, França e Hungria, carregava consigo uma particularidade: a exceção do confronto entre França x Hungria, todos os outros confrontos já haviam acontecido em Copas anteriores. No jogo de abertura do grupo, o gol da França sobre a Itália, marcado por Bernard Lacombe, entrou para o rol dos gols anotados antes de 1 minuto de jogo, abrindo o placar para os franceses a 37 segundos de jogo. Os italianos acabaram virando o placar.

No grupo B, a Tunísia, com a vitória de 3 x 1 sobre o México, tornou-se o primeiro país africano a vencer uma partida em Copas. Esse jogo também marcou o primeiro confronto e a primeira vitória de uma seleção africana sobre uma seleção da Concacaf. O gol de Vázquez Ayala, abrindo o placar para o México em cobrança de pênalti e o gol de Ali Kaab, empatando o jogo para a Tunísia, foram, respectivamente, o primeiro gol de uma seleção da Concacaf sobre uma seleção africana e o primeiro gol de uma seleção africana sobre uma seleção da Concacaf. O gol de Ayala também foi o primeiro sofrido por uma seleção africana em cobrança de pênalti na História das Copas. No último jogo da na Primeira Fase, pelo grupo 4, o jogador Rensenbrink abriu o marcador com um gol de pênalti, aquele que foi o gol número 1.000 da história das Copas. A Escócia, adversária da seleção holandesa neste jogo, venceu a partida por 3 x 2. O México deixou a Copa como último colocado pela quarta vez, um terrível recorde negativo repetido em 1930, 1950 e 1958, além desta Copa.

Pelo Grupo D, Peru e Escócia realizaram o confronto de número 100 entre sul-americanos e europeus, com a vitória dos sul-americanos por 3 x 1. No empate em 1 x 1 entre escoceses e iranianos, o gol de abertura do placar para a Escócia foi anotado contra pelo jogador iraniano Andranik Eskandarian, o primeiro gol contra de um jogador da Ásia em Copas, naquele que também foi o primeiro empate entre uma seleção europeia e uma seleção asiática na História das Copas. Ainda nesse mesmo Grupo, o jogador holandês Rob Rensenbrink e o jogador peruano Teófilo Cubillas foram, respectivamente, o quarto e o quinto autor de dois gols de pênaltis em um mesmo jogo de Copas do Mundo. O mais interessante desse fato é que ambos marcaram seus gols de pênaltis sobre o Irã. No caso de Cubillas, foram o segundo e terceiro gol de sua seleção na vitória por 4 x 1 e no caso de Rensenbrink, o primeiro e o terceiro gol da vitória por 3 x 0.O jogo entre Peru e Irã também marcou a primeira vitória de uma seleção sul-americana sobre uma seleção asiática. Com esses gols, a seleção iraniana da Copa de 1978 registrou a triste marca de seleção com mais gols de pênaltis sofridos em uma única Copa.

Nas Semifinais, o Brasil enfrentou a Polônia, sua adversária na disputa do terceiro lugar, em 1974, o Peru e a anfitriã Argentina. Do outro lado estavam Alemanha, Itália, Áustria e a forte Holanda, nesta Copa, sem o capitão Cruyff que se recusou a servir a seleção holandesa, sendo cronistas da época, por questões salariais.

Começamos a Semifinal apagando um pouco a imagem da Primeira Fase ao vencer o Peru por 3 x 0. O atacante Dirceu, ao anotar 2 x 0 para o Brasil, fazia não só seu segundo gol na partida como o gol de número 50 nos confrontos entre sul-americanos. A Argentina passava pela Polônia: 2 x 0. No jogo seguinte, considerado por muitos como a final antecipada da Copa, brasileiros e argentinos entravam em campo. Era a partida de número 50 do Brasil em Copas. Apesar de uma leve superioridade brasileira, não conseguimos sair do 0 x 0, naquele que marcou o primeiro e único empate entre sul-americanos até a Copa de 2014. Ao não sofrer gols nessa partida, o Brasil repetiu pela terceira vez o recorde de não sofrer gols em 4 jogos consecutivos, além de igualar a Alemanha nessa mesma Copa. E o goleiro brasileiro Emerson Leão estabeleceu duas marcas importantes: repetiu o feito de não sofrer gols em 4 partidas consecutivas, assim como em 1974, sendo a sexta seleção a igualar esse feito e o terceiro selecionado brasileiro a atingir essa marca; também atingiu a marca de 8 partidas sem sofrer gols em Copa do Mundo, um recorde até então. Partíamos para a última rodada com um saldo de gols superior à Argentina. Enfrentando a forte Polônia, o Brasil conseguiu uma importante vitória por 3 x 1. Restava saber o resultado de Argentina e Peru, três horas mais tarde, devido a uma manobra dos argentinos. A seleção da casa precisava de um placar com quatro gols de diferença a seu favor para se classificar à final. Num jogo que até hoje levanta suspeita, a seleção peruana sucumbiu num vergonhoso 0 x 6 ante a Argentina. A chamada ”peruada” teve repercussão negativa até mesmo entre os jornalistas peruanos, sendo que alguns cronistas da época afirmam que, ao desembarcar no Peru, a seleção daquele país foi recebida pelos torcedores de lá com uma chuva de moedas, como protesto por um suposto suborno no jogo crucial. Ao Brasil restava novamente disputar a terceira posição do torneio.

No outro grupo, a Holanda, já sem o mesmo brilho da Copa anterior, conseguiu se classificar à Final, deixando para a Itália a vaga para a disputa do terceiro lugar. No jogo de abertura do Grupo, os holandeses golearam os austríacos por 5 x 1 no jogo que marcou a 100ª vitória nos confrontos entre europeus na história das Copas. O segundo gol holandês, anotado por Rob Rensenbrink, foi o seu quarto gol de pênalti nessa Copa, igualando o recorde do português Eusébio, na Copa de 1966. Rensenbrink já havia anotado dois gols de pênalti contra o Irã e um contra a Escócia, na Primeira Fase da Copa. Também foi da Holanda a marca de gol número 400 nos confrontos entre europeus. Adrianus Haan, ao empatar em 1 x 1 a partida com a Alemanha Ocidental, anotou tal feito num jogo que acabou 2 x 2. Destaque negativo desta Semifinal foi o empate em 0 x 0 entre Alemanha e Itália, o primeiro a ocorrer duas vezes na história em um mesmo confronto, fato só igualado em 2010 pelos também campeões França e Uruguai e em 2014, por Argentina e Holanda. Apesar disso, por não ter sido vazada na Primeira Fase, a seleção alemã alcançava o 4º jogo consecutivo sem sofrer gols, igualando o recorde já marcado outras 4 vezes em Copas anteriores. O goleiro Sepp Maier também se tornou um dos goleiros e não sofrer gols em 8 partidas de Copas do Mundo, ambos os feitos repetidos, dias depois, pelo goleiro brasileiro Leão. A Alemanha também protagonizou novamente a repetição de confronto entre as finalistas da Copa anterior no jogo em que empatou com a Holanda. Esse jogo entre alemães e holandeses, juntamente à partida Itália 1 x 0 Áustria, que aconteceram no mesmo horário, foram os jogos de número 299 e 300 em Copas. Ainda nesse grupo, o jogo entre alemães e austríacos na última rodada registrou o 10º gol da Alemanha sobre a Áustria na História das Copas, gol anotado por Rummenigge, abrindo o placar para a Alemanha, que sofreria a virada e perderia por 2 x 3 o jogo.

No dia anterior à decisão, Brasil e Itália entravam em campo para decidir quem seria o terceiro e quem seria o quarto colocado nesta Copa. Ao final da partida, mais uma vez deu Brasil: 2 x 1. A seleção brasileira deixava a competição invicta em 7 jogos, porém, na terceira posição. Era o segundo caso na história das Copas que uma seleção invicta não levava o título, repetindo a Escócia, na Copa passada. Para o técnico brasileiro, Cláudio Coutinho, “o Brasil foi o campeão moral da Copa”.

Mas o título verdadeiro foi decidido no dia seguinte, quando Argentina e Holanda, que já haviam perdido um jogo nesta Copa na Primeira Fase, com Itália 1 x 0 Argentina e o já citado Escócia 3 x 2 Holanda, entravam para decidir quem seria, pela primeira vez, campeã. Além do fato de ter sido a única final na história entre não invictos, foi uma final onde os finalistas ainda não eram campeões, fato que só se repetiria 32 anos depois, em 2010, novamente com participação da Holanda.

A cidade de Buenos Aires sediou a decisão. Num jogo onde a violência argentina parecia ser ignorada pelo árbitro italiano Sérgio Gonella, o artilheiro Mario Kempes abriu o marcador em favor da seleção da casa. Nanninga empatou o jogo para a Holanda. No último minuto de jogo Rensenbrink acertou a trave do excelente goleiro Filliol, jogando fora o título mundial. Devido a este lance, um torcedor argentino presente ao estádio sofreu um enfarto, sendo socorrido a tempo para festejar o título.

O jogo foi para prorrogação, a terceira a acontecer em uma Final de Copa do Mundo e nela a Argentina não tomou conhecimento do adversário. Passou à frente com outro gol de Kempes e selou a sorte da partida com Bertoni. Placar final, Argentina 3 x 1 Holanda. A Argentina repetiu o feito da Alemanha em 1954 e 1974, conquistando o título sem manter a invencibilidade durante o torneio. Mais do que isso, anotou a 50ª vitória de uma seleção sul-americana sobre uma seleção europeia.

Além do título, a Argentina conquistou a posição de melhor ataque da competição, ao lado do seu adversário na final, a Holanda, com 15 gols em 7 jogos. O argentino Kempes, autor de dois dos três gols argentinos na Final, entrou para o seleto grupo de jogadores a marcar ao menos 2 gols em uma Final de Copa do Mundo e levou o título de artilheiro do campeonato, com 6 gols. Era apenas a 2ª vez na história das Copas em que o artilheiro pertencia à seleção campeã e a primeira vez em que título da Copa, melhor ataque e artilharia ficavam com o mesmo time. O técnico Cesar Luis Menotti, com 40 anos, tornou-se o terceiro mais novo técnico a vencer uma Copa do Mundo, superado apenas pelo segundo mais novo, o brasileiro Zagallo, em 1970, e pelo mais novo da história, o uruguaio Suppici, em 1930. O goleiro holandês Jan Jongbloed tornou-se o 3º mais velho jogador a disputar uma Final de Copa do Mundo, aos 37 anos e 212 dias.

A seleção holandesa voltou para casa, pela segunda vez consecutiva, com a derrota no jogo decisivo, sendo, os dois vice-campeonatos e o de 2010, suas melhores colocações em Copa. Além disso, os holandeses igualaram a feito de Itália, em 1934 e 1938, e de Brasil, em 1958 e 1962, ao disputar duas finais consecutivas.

A Argentina entra para o rol dos campeões mundiais, terminando a Copa com a maior goleada de sua história, 6 x 0, no fatídico jogo contra o Peru.

E a Copa de 1978, a última com participação de 16 seleções, acabou com a marca negativa de 6 resultados 0 x 0 e quebrou o recorde de 1974 em Copas com este número de participantes.