História da Copa do Mundo de 1950

Brasil, 1950 – A tragédia no Maracanã

A Segunda Guerra Mundial adiou por oito anos a realização da quarta Copa do Mundo. O cancelamento em 1942, no “auge” da Segunda Guerra Mundial, e o cancelamento em 1946, na depressão pós-guerra em que passava o mundo, mais precisamente a Europa, levaram para 1950 a realização do torneio. O Brasil, pouco afetado pela guerra, sediou o Mundial, sem concorrências.

Apesar de ter passado cinco anos do final da guerra, muitos países não tiveram condições de participar da Copa. Dentre elas estava a Alemanha, que foi impedida pela FIFA de participar do Mundial. Apenas 34 seleções se inscreveram.

Após a definição das 16 seleções que disputariam o Mundial, aconteceram mais três baixas: Escócia, Turquia e Índia desistiram de participar do torneio. A única boa novidade foi a primeira participação da Inglaterra, após desprezar três vezes o Mundial, sendo a única estreante deste torneio, tornando 1950 a Copa com o menor número de países estreantes, fato só igualado em 2010 e 2014. Além desses, 4 seleções disputavam de forma consecutiva e 8 seleções retornavam de participações anteriores.

Como em 1930, também sediada na América, a Copa do Mundo teve a participação de apenas 13 seleções: Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai, pela América do Sul; EUA e México, pela Concacaf; e Espanha, Itália, Iugoslávia, Suécia, Suíça e a estreante Inglaterra, pela Europa.

Novamente, assim como em 1930, a Copa iniciou com uma fase dividida em grupos e não em jogos eliminatórios. A final, porém, foi a única na história a ser disputada em um grupo de quatro países, em vez de um único jogo decisivo.

Era o primeiro ano em que a Copa estava sendo disputada com o troféu já intitulado de JULES RIMET. A Itália jogava pelo terceiro título que lhe daria, em definitivo, a posse deste troféu. Porém, o trágico acidente aéreo que dizimou o time italiano do Torino, em 1949, enfraqueceu a base da “Azurra”, que foi desclassificada logo na Primeira Fase, sendo a primeira seleção campeã de um torneio anterior a cair logo na Primeira Fase do campeonato seguinte.

A seleção inglesa, que se recusou de participar dos mundiais anteriores, segundo alguns críticos da época, por se achar um nível acima do restante do planeta, também sai do Mundial já na Primeira Fase, com uma única vitória, 2 x 0 sobre o Chile, e duas derrotas, 0 x 1 Espanha e o humilhante 0 x 1 para os EUA.

O Brasil iniciou o torneio vencendo o México por 4 x 0 naquele que foi o primeiro confronto e a primeira vitória de nossa seleção contra uma seleção da Concacaf. O gol de abertura do placar, feito pelo artilheiro brasileiro Ademir de Menezes, foi o primeiro da seleção brasileira sobre uma seleção da Concacaf. A classificação para o turno final aconteceu com uma certa facilidade, apesar do tropeço no empate em 2 x 2 com a Suíça, aliás, um dos quatro países que o Brasil já enfrentou em Copas e nunca venceu. Esse empate foi o maior placar de empate com a participação da seleção brasileira na história das Copas, uma vez que os demais empates ou foram 0 x 0 ou 1 x 1. Também foi o jogo de número 10 dos brasileiros em Copas. Em outro jogo da Primeira Fase, Brasil e Iugoslávia foram os primeiros selecionados a se enfrentarem duas vezes em Copas diferentes, pois já haviam se enfrentado em 1930.

Por sua vez, o Uruguai jogou em um grupo que, devido às desistências, apresentava apenas duas seleções: o próprio Uruguai e a Bolívia. O jogo foi um massacre: Uruguai 8 x 0 Bolívia. Foi a maior goleada da Copa e da seleção uruguaia na história, que com tal resultado igualou o feito da Suécia, em 1938, com a maior goleada até então e que ainda figura como o terceiro maior placar da história das Copas, além de ser a maior goleada aplicada por uma seleção sul-americana e a maior sofrida por uma seleção sul-americana em Copas. Também foi estabelecido pela seleção uruguaia o recorde de 5 vitórias consecutivas desde a estreia em Copas, fato nunca superado até então.

No turno final, o Brasil repetiu, nos dois primeiros jogos deste turno, o feito de enfrentar duas vezes em Copas diferentes a mesma seleção. Venceu a Suécia, que já enfrentara em 1938, e a Espanha, que já enfrentara em 1934. Contra a Suécia, o 10º confronto brasileiro com seleções europeias em Copas e também a 10ª vitória de uma seleção sul-americana contra uma europeia em Copas, o Brasil conseguiu o melhor marcador de sua história e a segunda partida com mais gols na vitória por 7 x 1, igualando em quantidade de gols com a partida entre Uruguai e Bolívia, que, aliás, foram as partidas com mais gols nesta Copa. Nesse jogo, o brasileiro Ademir anotou 4 gols para o Brasil, igualando o feito do polonês Wilimowsky, em 1938, e tornando-se o maior artilheiro brasileiro e sul-americano em um único jogo e só sendo superado na Copa de 1994. E o sexto gol brasileiro, anotado por Maneco, foi o décimo gol do Brasil sobre a Suécia na história das Copas. No jogo seguinte, contra a Espanha, demos o troco da derrota em 1934 em grande estilo, goleando os espanhóis por 6 x 1. Essa goleada é a segunda maior do Brasil na história das Copas, perdendo apenas para a goleada que antecedeu a esse jogo. O gol de abertura foi um gol contra do jogador espanhol José Parra Martinez, o primeiro a beneficiar os brasileiros e Copas. Já o quarto gol brasileiro, marcado pelo jogador Chico, foi o gol de número 300 em Copas.

O Uruguai venceu apertado à Suécia, 3 x 2, no jogo em que o uruguaio Oscar Miguez, ao dar números finais ao placar, anotou o gol de número 50 de sul-americanos sobre europeus na história das Copas. Além disso, a Celeste Olímpica empatou com a Espanha, 2 x 2, de modo que a seleção brasileira era considerada franca favorita para o jogo decisivo, pois não só era a melhor seleção como jogava em casa e dependendo apenas do empate para conseguir o título. Tão favorita estava a seleção que num golpe de profunda desorganização e desrespeito ao adversário, na noite anterior ao jogo final, fora dada uma festa para a delegação, antecipando a comemoração de um título que nunca chegou a acontecer.

No dia 16 de julho de 1950, o Maracanã lotou para assistir a grande partida final. Era a segunda e última Final com a participação de duas seleções sul-americanas. Estima-se que, aproximadamente, 200.000 pessoas estiveram presente naquele dia. E, para aumentar a festa, o Brasil começou fazendo 1 x 0, com Friaça, no começo do segundo tempo. Porém, a “Celeste Olímpica”, comandada em campo pelo capitão Obdulio Varela, não se deu por derrotada. Partiu para cima do Brasil e nos pés de Schiafino empatou o jogo. Esse gol foi o primeiro sofrido pelo Brasil de uma seleção sul-americana em Copas. O Maracanã se calou, apesar de o empate ainda dar o título ao Brasil. Segundo comentário do goleiro uruguaio, Maspolli, nesta hora a seleção de seu país sentiu que poderia vencer o jogo. Aos 35 minutos do segundo tempo, o desastre; Gighia entra pela direita e bate cruzado contra o gol de Barbosa. Era o fim de um sonho. Era o começo de um pesadelo. Um choro orquestrado por 200.000 pessoa tomou conta do maior estádio do mundo. Um torcedor, morto por um enfarte no momento do gol brasileiro, foi o único torcedor no estádio a não presenciar o desastre.

O Uruguai igualava o feito da Itália e se tornava bicampeão mundial. Assim como a “Azurra”, vencia as duas primeiras Copas que disputou. A “Celeste Olímpica” terminou a Copa igualando o número de gols marcados no seu primeiro título, em 1950: 15 tentos. Porém, assim como em 1930, deixou o título de ataque mais positivo do campeonato para o vice-campeão.

A derrota para o Uruguai foi a primeira sofrida pelos brasileiros diante de uma seleção sul-americana. Aliás, o Brasil só foi derrotado em Copas por seleções da América do Sul ou da Europa.

O Brasil fez 22 gols em 6 jogos, tendo em Ademir de Menezes, o Queixada, o artilheiro do torneio com 8 gols e o brasileiro com mais gols em uma única Copa. Estes dois fatos, somados ao fato de o Brasil subir para o 2º posto no ranking, atrás da Itália e à frente do campeão Uruguai, eram os únicos consolos para um inconsolável Maracanã.

O saldo do torneio foi bastante positivo: 22 jogos, 88 gols, exatos 4 gols de média por jogo e uma média incrivelmente surpreendente de 60.773 espectadores por jogo, superando a marca de 1.000.000 de pessoas no total. Essa média foi recorde até a Copa de 1994, nos EUA, ou seja, por 30 anos ou 10 Copas, o que só vem a comprovar que o Brasil realmente merecia, anos mais tarde, o título de melhor seleção de futebol.