História da Copa do Mundo de 2014

Brasil, 2014 – A vitória alemã e a vergonha brasileira

Pela primeira vez na história a Copa do Mundo ficava ausente da Europa por duas edições seguidas. O Brasil, maior vencedor do torneio, teve o privilégio de sediá-lo pela segunda vez na história, assim como fez em 1950.

Para essa edição foram inscritos 203 países, um país a menos inscrito em relação à Copa passada, em busca das restantes 31 vagas para a Copa do Mundo, já que o Brasil, como sede, já estava classificado.

Graças ao fato de a Copa ser realizada novamente no Brasil, a América do Sul trouxe sua segunda maior quantidade de países participantes. Somaram-se ao anfitrião Brasil as seguintes seleções: Argentina, Chile, Colômbia, Equador e Uruguai. Já na Europa, somando-se à campeã Espanha, tivemos outras doze seleções: Alemanha, Bélgica, Croácia, França, Grécia, Holanda, Inglaterra, Itália, Portugal, Rússia, Suíça e a estreante Bósnia e Herzegóvina, chamada aqui apenas de Bósnia, a única estreante desse torneio, o número mais baixo de estreantes, assim como aconteceu na Copa passada e em 1950, no próprio Brasil. Os africanos que participaram do torneio foram: Argélia, Camarões, Costa do Marfim, Gana e Nigéria, todos participantes da Copa passada, que, por sediar a Copa, abriu seis vagas para a África. Pela Concacaf, quatro seleções estiveram em campo: Costa Rica, EUA, Honduras e México. Os asiáticos levaram três seleções, além da Austrália, que disputa pela Ásia, mas pertence à Oceania: Coreia do Sul, Irã e Japão. Foi o maior número de presença de seleções que haviam disputado a última Copa: 24 países. Também o maior número de participação de campeões mundiais. Todos os oito campeões alcançaram a classificação para essa Copa, sendo o recorde até então.

O Brasil sediou a Copa com uma seleção que havia passado por instabilidades constantes desde a derrota em 2010, tendo novamente desperdiçado a chance de conquistar a medalha de ouro olímpica em 2012, sob o comando de Mano Menezes, ao perder a final para o México, adversário na Primeira Fase desta Copa. Trouxe então, de volta, Luis Felipe Scolari, o Felipão, técnico do pentacampeonato, em 2002, auxiliado por Carlos Alberto Parreira, tetracampeão em 1994. Mesmo tendo vencido os cinco jogos e conquistado a Copa das Confederações um ano antes, vencendo a final por 3 x 0 sobre a poderosa Espanha, atual campeã mundial e bicampeã europeia, o time ainda não mostrava a qualidade e a estabilidade esperada.

No jogo de estreia do Brasil, a Croácia abriu o placar com um gol contra do lateral brasileiro Marcelo, o primeiro gol contra de nossa seleção na história das Copas. Coincidentemente, o primeiro gol contra que favoreceu o Brasil na História das Copas também aconteceu em nossas terras, no gol de abertura do placar, de José Parra, da vitória do Brasil por 6 x 1 sobre a Espanha, em 1950. Mas a seleção brasileira reagiu e buscou a virada, vencendo por 3 x 1. O gol da virada brasileira, marcado pelo jogador Neymar em cobrança de pênalti, foi o 9º gol de nossa seleção nesse tipo de cobrança, um recorde para seleções sul-americanas. Ressalta-se que o Brasil só foi derrotado no jogo de estreia nas duas primeiras Copas. Nas demais dezoito Copas, incluindo esta, estreou com vitórias em dezessete delas e apenas em uma, em 1978, com empate. No jogo seguinte, não saímos de um 0 x 0 com o México. Esse jogo, aliás, além de repetir um confronto da outra Copa realizada no Brasil, em 1950, também estabelecia um novo recorde: O Brasil tornou-se o primeiro país a enfrentar quatro vezes uma seleção em Copas e nunca sofrer gols – venceu o México por 4 x 0 em 1950, 5 x 0 em 1954 e 2 x 0 em 1962. Por outro lado, tornou-se o primeiro jogo contra países não pertencentes ao eixo América do Sul/Europa em que o Brasil não conseguiu a vitória. Também abriu a nova marca de repetição de confrontos com a participação de uma seleção não pertencente ao eixo Europa/América do Sul, que seria igualado dias depois por argentinos e nigerianos. Encerramos a Primeira Fase em primeiro do grupo com uma vitória por 4 x 1 sobre Camarões, no jogo de número 100 do Brasil em Copas, igualando o feito dos alemães, dias antes dos brasileiros. Ainda pelo Grupo A, a vitória do México por 1 x 0 sobre Camarões foi jogo de número 50 dos mexicanos em Copas e a 4ª participação do jogador camaronês Samuel Eto’o em Copas, igualando o recorde africano estabelecido por seu conterrâneo Rigobert Song, em 2010. E no jogo Croácia 4 x 0 Camarões, os croatas aplicam a maior goleada de seu selecionado em Copas até então. A seleção de Camarões deixou a segunda Copa consecutiva sem vencer um jogo. Somado à derrota no último jogo de 2002, os camaroneses igualaram a segunda pior marca de jogos sem vencer, com 7 jogos.

Pelo Grupo B, Espanha e Holanda protagonizaram a primeira vez em que um confronto se repetia de forma consecutiva sem que fosse um jogo de desempate. Mais do que isso, também pela primeira vez, campeão e vice-campeão da Copa anterior se enfrentavam na Primeira Fase da Copa seguinte no jogo de abertura de suas participações na fase de grupos. Era, no entanto, a quarta vez na história das Copas em que o confronto final se repete na Copa seguinte, mas pela primeira vez acontecia na Primeira Fase, na estreia das duas seleções e sem a participação da Alemanha. A Holanda deu o troco da derrota na Final de 2010 com um placar de 5 x 1. A goleada sobre a Espanha também foi a quarta vez na história das Copas que o país detentor do título perde na estreia. Nas outras vezes, no entanto, duas com a Argentina e uma com a França, o placar tinha sido um “magro” 1 x 0, sendo esse jogo disparado o pior início de um campeão atual em Copas. O gol dos espanhóis, que abriu o placar do jogo em 1 x 0 antes de sofrer a humilhante virada, foi marcado pelo jogador Xabi Alonso em cobrança de pênalti, o 15º gol de pênalti em favor da Espanha, recorde disparado na História das Copas. Enquanto a Holanda confirmou seu favoritismo e classificou-se como primeira do Grupo, os espanhóis deixaram escapar a vaga para as Oitavas de Final, que acabou com o Chile. Por sinal, no jogo em que o Chile desclassificou a Espanha ao vencer por 2 x 0, houve mais uma repetição de jogo da primeira Copa no Brasil, em 1950. Com a eliminação, a Espanha se juntava a Itália (1950 e 2010), Brasil (1966) e França (2002) ao deixar a Copa na Primeira Fase sendo atual campeã. O jogador australiano Tim Cahill, autor do único gol de sua seleção na derrota por 3 x 1 para o Chile na primeira rodada e autor do gol de empate em 1 x 1 na derrota por 3 x 2 para a Holanda, na segunda rodada, igualou sua marca de 2006 e de seu companheiro de seleção Brett Holman, em 2010, com 2 gols em uma mesma Copa, um recorde para jogadores da Oceania. Também se tornou o mais velho jogador da Oceania a marcar gol em Copas, aos 34 anos e 195 dias. O gol contra o Chile também foi o primeiro gol de uma seleção da Oceania sobre uma seleção sul-americana, sendo o único jogador a registrar o primeiro gol no confronto de continentes em duas ocasiões, uma vez que também havia marcado o primeiro gol sobre uma seleção asiática, na vitória por 3 x 1 sobre o Japão, em 2006. Cahill também estabeleceu outros dois recordes para seleções da Oceania, ao marcar gols em 3 Copas distintas, somando-se aos gols marcados em 2006 e 2010, e alcançar a marca de 5 gols na História das Copas. Com o gol do jogador australiano Mile Jedniak abrindo o placar em cobrança de pênalti, a Holanda tornou-se a segunda seleção a sofrer mais gols de pênaltis na História das Copas, com 7 gols, atualmente figurando na terceira posição no geral, mas na primeira posição entre os europeus.

Pelo Grupo C, a Colômbia estreou vencendo a Grécia por 3 x 0 e anotando sua maior vitória na história das Copas. Já Costa do Marfim, ao vencer o Japão por 2 x 1, igualou outras três seleções no número de vitórias consecutivas em Copas para seleções africanas, com 2 vitórias consecutivas, somando-se à vitória no último jogo de 2010 sobre a Coreia do Norte. No jogo final da fase de grupos, a Colômbia repetiu a vantagem do primeiro jogo e aplica 4 x 1 no Japão. Nesse jogo, o goleiro Farid Mondragon entrou em substituição para, aos 43 anos e 3 dias, tornar-se o segundo mais velho jogador a participar de um jogo de Copa do Mundo. E a Grécia, ao vencer a Costa do Marfim por 2 x 1 no jogo final, alcançou pela primeira vez a classificação para as Oitavas de Final.

Pelo Grupo D, o grupo da morte, o primeiro composto por três campeões mundiais, Uruguai protagonizou a primeira zebra da Copa ao perder de virada para a Costa Rica, considerada a mais fraca seleção do grupo, por 1 x 3, vitória esta que se tornou a melhor placar costarriquenho em Copas. Costa Rica também venceu a Itália por 1 x 0 na segunda rodada e tornou-se a grande zebra dessa Primeira Fase ao alcançar a classificação antecipada, mandando para casa dois campeões mundiais. As 2 vitórias seguidas dos costarriquenhos igualaram o recorde de vitórias consecutivas para seleções da Concacaf, pertencente a México, em quatro ocasiões, e EUA, em uma. O jogo Uruguai x Itália, além de ser jogo de número 50 dos uruguaios em Copas, também era a decisão de qual dos campeões mundiais se juntaria aos costarriquenhos. E deu Uruguai, ao vencer os italianos por 1 x 0. Nesse jogo, numa jogada na área da Itália, o atacante Luis Suarez mordeu o ombro do defensor italiano Chellini e acabou suspenso por 9 jogos. Itália e Inglaterra, que haviam repetido o placar de 2 x 1 dos italianos sobre os ingleses, assim como no outro confronto ocorrido entre ambos, na disputa do terceiro lugar, em 1990, deixaram a Copa na Primeira Fase. Era a primeira vez na História das Copas em que uma seleção campeã mundial, no caso, a Itália, em 2006, deixava a competição na Primeira Fase por duas Copas consecutivas, em 2010 e 2014.

Pelo Grupo E, no segundo gol da França sobre Honduras, Benzema acertou a trave e a bola voltou no goleiro hondurenho indo para dentro do gol. A bola mal passou a linha de gol e o goleiro rebateu-a para fora do gol. Graças ao recurso eletrônico pela primeira vez utilizado em Copas, o gol foi validado. Esse também foi o 10º gol em cobrança de pênalti marcado pela França na História das Copas, a terceira marca até então, embora, após 2018, com mais 2 gols dessa forma, os franceses ocupem a segunda posição. A derrota dos hondurenhos por 3 x 0 foi o 5º jogo consecutivo dessa seleção sem marcar gols, somando-se ao último jogo de 1982 e aos três jogos de 2010, a pior marca da História das Copas, alcançada pela terceira seleção, uma vez que Bolívia e Argélia já tinham atingido tal marca anteriormente. Já no fantástico jogo França 5 x 2 Suíça, o primeiro gol francês anotado por Olivier Giroud foi o gol de número 100 dos franceses em Copas. Com as três derrotas sofridas nesta Copa, Honduras tornou-se a seleção com mais número de jogos sem alcançar uma vitória, com 9 partidas disputadas em três Copas e nenhum triunfo no placar.

Pelo Grupo F, o gol contra do bósnio Kolasinac, aos 2 minutos e 24 segundos de jogo, na vitória da Argentina por 2 x 1, foi o gol contra mais rápido da história das Copas, superando a marca negativa de Carlos Gamarra, em 2006, aos 2 minutos e 46 segundos do jogo Inglaterra 1 x 0 Paraguai. Também foi o 2º gol em que argentinos são beneficiados, igualando a marca sul-americana antes alcançada por Brasil, em 1998, e Paraguai, em 2006. Na rodada final deste Grupo, a estreante Bósnia conquistou sua primeira vitória ao derrotar o Irã por 3 x 1, encerrando sua participação na Copa tendo conquistado uma vitória, pontos e marcado gols. A Nigéria, com um empate em 0 x 0 com o Irã e uma vitória por 1 x 0 sobre a Bósnia, nas duas primeiras rodadas, igualou Camarões e Marrocos ao ficar 2 jogos consecutivos sem sofrer gols, a melhor marca para seleções africanas. Já o jogo Argentina 3 x 2 Nigéria, permitiu aos argentinos igualar um recorde dos italianos no confronto com a Áustria de enfrentar e vencer quatro vezes a mesma seleção na História das Copas. O confronto também igualou a marca estabelecida dias antes por brasileiros e mexicanos de se repetir pela quarta vez com a participação de um selecionado não pertencente ao eixo Europa/Amércia do Sul. Além disso, esse jogo deu a classificação aos nigerianos, apesar da derrota, o que se tornou a primeira vez em que uma seleção africana classificou-se na Primeira Fase em três Copas diferentes. O segundo gol argentino, marcado por Lionel Messi ao desempatar a partida, foi o gol de número 50 de sul-americanos sobre africanos. E os 2 gols da Nigéria, ambos marcados pelo jogador Ahmed Musa, tornaram o nigeriano o oitavo jogador africano a alcançar tal marca em um único jogo na História das Copas.

Pelo Grupo G, na estreia de Alemanha e Portugal, a vitória alemã por 4 x 0 foi o jogo de número 100 da Alemanha em Copas e a maior derrota de Portugal até então. O gol de abertura do placar, marcado pelo jogador alemão Thomas Müller em cobrança de pênalti, foi o 11º gol de pênalti da Alemanha na História das Copas, a segunda melhor marca até então e a terceira, atualmente. No jogo EUA 2 x 1 Gana, o terceiro confronto em Copas consecutivas entre essas seleções, Clint Dempsey marcou o quinto gol mais rápido em Copas aos 28 segundos de jogo, sendo o gol mais rápido marcado por jogador de uma seleção da Concacaf. Esse gol também deu a Dempsey o título de jogador da Concacaf com gols em mais Copas, tendo marcado em 3 torneios, assim como o mexicano Cuauhtemóc Blanco. Já em Alemanha 2 x 2 Gana, o jogo de número 800 na História das Copas, quis o destino repetir a façanha de colocar em campo e em seleções opostas os meio-irmãos Jérome Boateng, da Alemanha, e Kevin-Prince Boateng, de Gana, fato inusitado que já havia ocorrido em 2010, também na Primeira Fase. Ressalta-se que no time ganês também estavam em campo, dessa vez pela mesma seleção, os irmãos André Ayew e Jordan Ayew, filhos de um importante ex-jogador ganês conhecido por Abedi Pelé. Além disso, o último gol do jogo, que deu a Alemanha o empate, foi marcado por Miroslav Klose, igualando o recorde do brasileiro Ronaldo Fenômeno com 15 gols em Copas e o recorde de gols em 4 Copas distintas, pertencente a outro alemão, Uwe Seeler, e ao brasileiro Pelé. Ainda na segunda rodada, outro jogo terminado em 2 x 2 trouxe uma marca importante. O gol do jogador norte-americano Jermaine Jones, empatando o jogo em 1 x 1 com Portugal, foi o gol de número 2.300 na História das Copas. No jogo de despedida de Portugal e Gana, os portugueses venceram por 2 x 1. O gol de abertura do placar para os portugueses, marcado contra pelo jogador ganês John Boye, foi o 3º gol em que Portugal foi beneficiado em Copas, a segunda melhor marca da História das Copas. Mas foi o gol de empate do ganês Asamoah Gyan que se destacou nesse jogo. Para o jogador ganês Gyan, restou o consolo de encerrar a sua participação em Copas com 6 gols, tornando-se o novo artilheiro africano na História das Copas, superando a lenda camaronesa Roger Milla e estabelecendo o recorde entre jogadores africanos ao marcar gols em 3 Copas distintas.

Pelo Grupo H, o gol do jogador argelino Sofiane Feghouli em cobrança de pênalti abrindo o placar contra a Bélgica, na primeira rodada, colocou os belgas na terceira posição em gols sofridos dessa forma na História das Copas, atualmente a quarta posição. A vitória por 4 x 2 da Argélia sobre a Coreia do Sul foi a maior goleada dos argelinos na História das Copas.

Dois recordes de classificação foram quebrados para essas Oitavas de Final. Pela primeira vez na História das Copas, a Concacaf conseguiu classificar três seleções para essa fase, enquanto que a África conseguiu classificar duas seleções. Essa melhora no desempenho desses continentes, aliada a manutenção de cinco classificados da América do Sul, como na Copa passada, derrubaram os asiáticos, que não conseguiram nenhuma classificação. Já a Europa manteve o desempenho da Copa passada, classificando apenas 6 seleções, bem abaixo em relação às Copas anteriores. O número de seleções fora do eixo Europa/América do Sul igualou o recorde de 2002 e 2010, com Costa Rica, EUA, México, Argélia e Nigéria.

O Brasil enfrentou a surpreendente seleção chilena, que mandou para casa logo na Primeira Fase os espanhóis, atuais campeões mundiais. Era a terceira vez em que brasileiros e chilenos se enfrentavam em um jogo de Oitavas de Final, fato também ocorrido em 1998 e 2010, exatamente nas 3 Copas que o Chile havia alcançado essa fase. Desta forma, o confronto igualava a marca de alemães e iugoslavos, embora no caso deles, os jogos tivessem acontecido em Copas consecutivas: 1954, 1958 e 1962. O jogo foi difícil, com a seleção brasileira alternando entre altos e baixos na partida, que acabou em 1 x 1 no tempo normal e na prorrogação. Foi o segundo empate entre duas seleções sul-americanas na História das Copas até então, ambos tendo como um dos protagonistas o Brasil, que empatou também com a Argentina, em 1978. Na decisão por pênaltis, graças ao goleiro Júlio César, o Brasil levou a melhor e garantiu vaga para as Quartas de Final. Era a 4ª disputa de pênaltis em que o Brasil participava, igualando Itália, Alemanha, Argentina e França, mas com três vitórias nas três últimas disputas.

No outro clássico sul-americano, a Colômbia devolveu a derrota ao Uruguai sofrida no único confronto anterior entre ambos, em 1962, e se classificou para enfrentar o Brasil em mais um clássico sul-americano.

Outro Semifinalista da Copa passada, a Holanda venceu o México por 2 x 1 e assegurou a vaga para a próxima fase.

Nos demais confrontos, outra disputa de pênaltis e três prorrogações definiram os classificados.

Em jogos de pura empolgação e ofensividade, tanto Alemanha 2 x 1 Argélia, quanto Bélgica 2 x 1 EUA tiveram todos os seus gols saindo durante a prorrogação, uma vez que o tempo regulamentar de ambos os jogos terminou em 0 x 0. E não foi por falta de oportunidade. A atuação espetacular dos goleiros dessa Copa é o que impediu que muito mais gols fossem anotados.

No jogo entre Bélgica e EUA, o gol dos norte-americanos, marcado pelo jogador Julian Green, foi o segundo gol em prorrogação de uma seleção da Concacaf na História das Copas, igualando a seleção cubana que havia conquistado esse feito na distante Copa de 1938. E os dois gols dos belgas, de autoria de Kevin De Bruyne e Romelo Lukako, somado ao gol sofrido no tempo extra das Oitavas de Final da Copa passada, tornaram os EUA a seleção da Concacaf que mais sofreu gols em prorrogação na História das Copas, com 3 gols sofridos.

Já no jogo entre Alemanha e Argélia, os dois gols sofridos pelos argelinos, convertidos pelos jogadores André Shürrle e Mesut Özil, igualaram a marca negativa da seleção de Camarões como a segunda seleção africana a sofrer 2 gols em prorrogação. E o gol sofrido pelos alemães, de autoria do jogador argelino Abdelmoumene Djabou, foi o 10º gol sofrido pela Alemanha em prorrogação na História das Copas, um recorde absoluto.

Na vitória da Argentina por 1 x 0 sobre a Suíça, o gol marcado pelo jogador Ángel Di Maria no tempo extra foi o 4º gol dos argentinos em prorrogação, um recorde para seleções sul-americanas.

A França venceu a Nigéria por 2 x 0, com o placar sendo fechado pelo gol contra do jogador nigeriano Joseph Yobo. Como os franceses já haviam sido beneficiados com um gol contra no confronto com Honduras na Primeira Fase, marcado pelo jogador Noel Valladares ao abrir 2 x 0 no placar que se encerrou em 3 x 0 para a França, esse gol de Yobo permitiu aos franceses igualar a marca de 4 gols a seu favor, igualando italianos e alemães como as seleções mais beneficiadas nesse tipo de gol.

O jogo entre as zebras Costa Rica e Grécia acabou com a vitória dos costa-riquenhos nos pênaltis, após o empate em 1 x 1 no jogo e na prorrogação, avançando de forma invicta para as Quartas de Final.

E pela primeira vez na História das Copas, todos os campeões de chave se classificaram para as Quartas de Final.

Nas Quartas de Final, mais um confronto com uma seleção sul-americana, o 10º do Brasil na História das Copas. Desta vez, a adversária brasileira pela vaga nas Semifinais era a Colômbia, que havia vencido todos os quatro jogos até então, desbancado na fase anterior o Uruguai, protagonista da tragédia de 1950, aqui no Brasil. Desta vez vencemos no tempo normal, mas continuamos alternando entre bons e maus momentos no jogo. E uma entrada dura do jogador Zuñiga próximo ao final da partida tirou, do jogo e da Copa, Neymar, o melhor jogador brasileiro.

Em outro confronto, o único com uma seleção da Concacaf, a Holanda desclassificou nos pênaltis a Costa Rica, depois de um jogo encerrado no tempo normal e na prorrogação em 0 x 0. Os costa-riquenhos deixaram a Copa invictos, igualando a segunda maior marca de invencibilidade de uma seleção da Concacaf, com 5 jogos sem perder, e em sua melhor posição na História das Copas, com o 8º lugar.

No único confronto europeu dessa fase, Alemanha e França se enfrentaram pela quarta vez na História das Copas sem que nenhum desses confrontos ocorressem na Primeira Fase. E pela terceira vez consecutiva, os alemães levaram a melhor sobre os franceses e se classificaram para as Semifinais.

E no único confronto entre uma seleção sul-americana e uma europeia também nessa fase, a Argentina levou a melhor sobre a Bélgica, 1 x 0.

Desta forma, com placares magros e uma disputa de pênaltis, chegaram as Semifinais, juntamente ao Brasil, a Alemanha, a Argentina e a Holanda, compondo confrontos entre favoritos para definir os finalistas da Copa. Pela primeira vez desde 1978, coincidentemente na última Copa realizada na América do Sul, duas seleções sul-americanas chegaram às Semifinais, a sexta vez desde o início das Copas. A Alemanha, por sua vez, estabeleceu mais dois novos recordes ao participar de sua 13ª Semifinal e ser a primeira seleção a alcançar por 4 Copas consecutivas as Semifinais. Outra curiosidade destas Semifinais é que Brasil x Alemanha repetia o confronto da Final da penúltima Copa com decisão entre seleções já campeãs, em 2002, enquanto Argentina x Holanda repetia o confronto da Final da penúltima Copa com decisão entre seleções nunca antes campeãs, em 1978.

Mas o jogo da Semifinal brasileira reservava uma surpresa extremamente desagradável. Após levar um gol aos 11 minutos de jogo, o Brasil sofreu o chamado “apagão” e em apenas 6 minutos – dos 23 aos 29 minutos do primeiro tempo – levou 4 gols seguidos. A Alemanha venceu de forma arrasadora, fazendo 5 x 0 apenas no primeiro tempo e encerrando o placar num humilhante 7 x 1. Foi disparado a pior derrota da seleção brasileira na história das Copas e uma das piores de toda sua história. Apenas uma vez na história das Copas o Brasil havia sofrido 5 gols em uma partida, na vitória por 6 x 5 sobre a Polônia, em 1938, num jogo com prorrogação; e apenas uma vez também havia sofrido 4 gols, na derrota por 4 x 2 para a Hungria, em 1954. E em apenas duas Copas, 1938 e 1998, havia sofrido mais que 7 gols em todo o torneio, tendo sofrido exatos 7 no tricampeonato, em 1970. Para piorar, o segundo gol alemão nesse jogo também foi responsável por tirar um título brasileiro, o de maior artilheiro das Copas. Miroslav Klose alcançou a marca de 16 gols na História das Copas, superando o brasileiro Ronaldo Fenômeno, com 15 gols. Com essa vitória, a Alemanha tornou-se a sexta seleção a ter melhor desempenho nos confrontos com o Brasil, ao lado de Hungria, Noruega, França, Portugal e Holanda.

Já Argentina e Holanda fizeram um jogo disputado, porém sem muitas chances de gol. Era o 5º confronto entre ambas as seleções, a segunda melhor marca da História das Copas, assim como outros dez confrontos. O resultado foi um 0 x 0 no tempo normal e na prorrogação, no jogo que marcou também o 50º empate entre seleções da Europa e da América do Sul, levando a decisão para os pênaltis, com o recorde de 5 participações nesse tipo de decisão para a Argentina. Além disso, repetindo o placar entre essas seleções na Copa de 2006, foi o terceiro confronto a terminar sem gols pela segunda vez na História das Copas, assim como alemães e italianos, em 1962 e 1978, e uruguaios e franceses, em 2002 e na Copa passada. A Holanda já havia passado pelas Quartas de Final na disputa de pênalti de um outro jogo 0 x 0, contra Costa Rica. Ambos os jogos, terminados sem gols no tempo normal e na prorrogação, registraram uma marca negativa para Holanda, que já disputou 6 prorrogações na História das Copas e nunca conseguiu marcar gol no tempo extra. Todos as 11 seleções que mais jogaram prorrogação, entre 11 e 4 vezes, já marcaram ao menos um gol nesse tempo suplementar, à exceção dos holandeses. E os argentinos, graças a duas defesas do goleiro Romero, levaram a melhor e mantiveram a escrita de se classificar para a final em todas as cinco vezes que disputaram uma Semifinal. E dessa vez decidiriam a Copa novamente com a Alemanha, num jogo que igualou um recorde, o sétimo confronto entre as duas seleções, assim como Brasil x Suécia e Alemanha x Sérvia (Iugoslávia), e estabeleceu outro, a terceira repetição de uma decisão de Copa do Mundo. Antes dessa final, foram 3 vitórias dos alemães, dois empates e apenas uma vitória dos argentinos, sendo uma vitória para cada um nas finais anteriores.

Na disputa pelo terceiro lugar, mais uma decepção brasileira na partida em que brasileiros e holandeses igualavam o recorde de Alemanha x Inglaterra e Brasil x Itália, com 5 confrontos sem que nenhum deles tivesse acontecido na Primeira Fase. Tentando recuperar-se do vexame acontecido no jogo anterior, o Brasil acabou sofrendo mais um duro golpe, perdendo para a Holanda por 3 x 0, com um gol de pênalti anotado por Van Persie logo aos três minutos de jogo. Esse gol, aliás, foi o centésimo gol sofrido pela seleção brasileira em Copas do Mundo, marca só atingida, até então, pela Alemanha. Também foi o 10º gol de pênalti dos holandeses, que já haviam marcado nessa Copa nos pés de Klaas-Jan Huntelaar na vitória sobre o México nas Oitavas de Final, a terceira melhor marca até então e quarta, atualmente, e o 11º gol sofrido em cobrança de pênalti pelo Brasil em Copas, a pior marca dentre todas as seleções. Como o máximo de gols que o Brasil já havia sofrido em Copas anteriores tinha sido 11 gols, em 1938, seguido por 10 gols, em 1998, ninguém acreditava no início da Copa que os 12 gols que restavam para completar o gol sofrido de número 100 ocorresse nesse torneio. Mas o vexame contra a Alemanha contribuiu definitivamente para isso. Outras três marcas foram alcançadas nesse jogo: o segundo gol holandês, anotado por Daley Blind, foi o gol de número 300 de uma seleção europeia sobre uma seleção sul-americana; o terceiro gol, do jogador Wijnaldum, foi o 10º marcado pela Holanda no confronto com o Brasil, a única seleção a conseguir tal feito contra nossa seleção; e a derrota, a segunda consecutiva nesta Copa, fez o Brasil igualar pela terceira vez a triste marca de dois jogos consecutivos sem marcar pontos, igualando a seleção de 1966 e de 1974. A Holanda deixou a Copa sem o título, mas de forma invicta.

Já o Brasil deixou a Copa com um saldo de 14 gols sofridos, a pior marca de sua história, uma média de 2 gols sofridos por jogo, melhor apenas que em 1938, cuja média de gols sofridos foi de 2,2 gols por jogo. Encerrou seus últimos dois jogos em sua própria nação com a pior derrota da história das Copas e o placar idêntico a pior derrota sofrida antes dessa Copa, nos 3 x 0 da Final de 1998, com a França. Também se tornou, ao lado do México, as únicas seleções a disputar duas Copas em casa e não conseguir vencer em nenhuma, sendo o único campeão mundial a desperdiçar essas duas chances.

O Maracanã tornou-se o palco final de uma Copa pela segunda vez na história, desta vez, sem seu o país anfitrião. Alemanha e Argentina entraram em campo para um tira-teima, já que em 1986 o título ficou com os argentinos, enquanto que quatro anos depois, em 1990, ficou com os alemães. O confronto igualou o recorde de alemães e iugoslavos, em 1962, e de brasileiros e chilenos, nesta mesma Copa, ao acontecer pela terceira vez em uma mesma fase e também aconteceu pela 3ª Copa consecutiva, além do já citado recorde geral de confrontos, acontecendo pela 7ª vez, assim com Brasil e Suécia e Alemanha e Sérvia (Iugoslávia). E os alemães alcançaram o recorde de participar de 8 Finais, superando o Brasil, com 7.

O jogo foi muito movimentado, com chances criadas de ambos os lados, como poderia se esperar de uma final entre seleções desse nível. A Argentina teve mais chances no primeiro tempo, embora a melhor delas tenha sido da Alemanha com uma bola na trave em uma cabeçada de Howedes na cobrança de escanteio, próximo ao final do primeiro tempo. O segundo tempo também foi movimentado, mas com menos chances claras de gols para ambos os lados, o que levou ao encerramento do tempo normal em 0 x 0. Era a 10ª prorrogação dos alemães e a 9ª dos argentinos em Copas, figurando como segunda e terceira, respectivamente, nesse quesito. Os argentinos, inclusive, igualaram a marca de Bélgica, em 1986, e Inglaterra, em 1990, ao participar de 3 prorrogações em uma mesma Copa.

As seleções mantiveram o bom ritmo de jogo durante a prorrogação e criaram chances de gols, até que o alemão Mario Goetze, aos 7 minutos do segundo tempo da prorrogação, recebe um belo passe dentro da área, ajeita a bola e finaliza para dentro das redes do gol defendido pelos argentinos. O gol igualou o recorde de gols em prorrogação de uma seleção na História das Copas, com 8 gols, assim como a Itália. A argentina ainda tentou o empate no tempo que restava, mas o jogo acabou mesmo com o placar mínimo dando o quarto título à Alemanha.

Pela segunda vez, assim como ocorreu nas finais de 1978 e 1982, o placar se repetiu consecutivamente em duas Copas. A diferença, no entanto, é que na Copa de 1978, Argentina e Holanda empataram no tempo normal, tendo, os argentinos, marcado dois gols na prorrogação, enquanto que o placar de 1982 foi construído pela Itália no tempo normal. Desta vez, ambos os jogos tiveram o placar de 0 x 0 no tempo normal, com o gol da vitória marcado no segundo tempo da prorrogação pelos campeões. Foi, também, a repetição do mesmo placar que deu aos alemães o tricampeonato mundial de 1990 exatamente sobre os argentinos.

Além do título, a Alemanha também terminou com uma marca nunca antes alcançada, a de melhor ataque da competição pela terceira Copa consecutiva, com 18 gols marcados, quase a metade deles graças à goleada em cima do Brasil na Semifinal. Também igualou a marca brasileira de ter o melhor ataque em quatro Copas distintas, sendo a primeira no título de 1990. Das 20 edições, apenas em 9, ou seja, menos da metade delas, a seleção campeã deteve o título de melhor ataque. O título de artilheiro, no entanto, ficou com o colombiano James Rodrigues, com 6 gols. Outro grande artilheiro, o alemão Miroslav Klose, terminou sua participação em Copas com o segundo maior número de jogos, 24 partidas, apenas uma a menos do que o recordista e seu conterrâneo Lothar Matthaus. Saiu, no entanto, além do título de maior artilheiro das Copas, com a marca de jogador mais vencedor na História das Copas, tendo participado em 17 vitórias de sua seleção, ultrapassando outro jogador brasileiro, o lateral Cafu. Também alcançou o posto de terceiro mais velho jogador a vencer uma Copa do Mundo, aos 36 anos e 34 dias.

Foi uma Copa com um bom número de gols, 171 no total e uma média de 2,67 gols por jogo, igualando 1998 como a melhor média de gols desde que o torneio passou a ter 32 participantes. Também foi a terceira melhor marca desde 1974, perdendo apenas para os 2,71 de 1994 e para os 2,81 de 1982. A Copa também igualou o recorde de 1990, com 8 prorrogações e 4 decisões de vagas por pênaltis. É bem verdade que tivemos 7 resultados 0 x 0, igualando o recorde negativo das duas últimas Copas e da Copa de 1982.

Uma prova da ofensividade da Primeira Fase dessa Copa está na quantidade de gols marcados. Foram 136 gols em 48 jogos, apenas nove a menos do que toda a Copa de 2010. Além disso, houve 11 viradas em 10 jogos dessa Primeira Fase. No jogo Holanda 3 x 2 Austrália, houve dupla virada, quando os holandeses saíram na frente, sofreram a virada e voltaram a virar o placar saindo com a vitória. Na segunda rodada do Grupo G, dois resultados iguais – Alemanha 2 x 2 Gana e Portugal 2 x 2 EUA – em que os times que saíram na frente – Alemanha e Portugal – sofreram a virada mais alcançaram o empate antes do final do jogo. E em mais sete jogos a seleção que saiu na frente sofreu a virada e acabou sendo derrotada: Brasil 3 x 1 Croácia, Holanda 5 x 1 Espanha, Costa do Marfim 2 x 1 Japão, Costa Rica 3 x 1 Uruguai, Suíça 2 x 1 Equador, Bélgica 2 x 1 Argélia e Equador 2 x 1 Honduras. Nas Oitavas de Final, a Holanda mais uma vez é protagonista de uma virada, a 12ª desta Copa, ao vencer o México por 2 x 1 marcando seus gols nos últimos minutos do tempo regulamentar.