História da Copa do Mundo de 2002

Japão e Coreia do Sul, 2002 – Duas sedes e um Penta

Iniciamos um novo século e um novo milênio com duas inovações em relação à sede da Copa do Mundo: pela primeira vez o campeonato deixava o eixo Europa/América para ser disputado na Ásia; e pela primeira vez tínhamos duas sedes para o torneio.

Além dos anfitriões Japão e Coreia do Sul, a França, atual campeã mundial, também já tinha vaga garantida para esta Copa. Restavam 29 seleções que sairiam das eliminatórias, onde 199 seleções haviam se inscrito. E foram estas as classificadas: África do Sul, Camarões, Nigéria, Tunísia e a estreante Senegal, pela África; Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e o estreante Equador, pela América do Sul; Arábia Saudita e a estreante China, pela Ásia; Costa Rica, EUA e México, pela Concacaf; Alemanha, Bélgica, Croácia, Dinamarca, Eire, Espanha, Inglaterra, Itália, Polônia, Portugal, Rússia, Suécia, Turquia e a estreante Eslovênia, pela Europa. Foram 4 seleções estreantes, 20 seleções que participaram da Copa anterior, um número recorde, e 8 que voltaram a participar de uma Copa após estarem ausentes. Fato curioso, o treinador iugoslavo Bora Militnovijc, conseguiu treinar, pela quinta vez consecutiva, cinco seleções diferentes para as Copas, ao ser técnico da China. Antes disso, em 1986 ele foi técnico do México, em 1990, de Costa Rica, em 1994, dos EUA e em 1998, da Nigéria. Além disso, a seleção turca igualou a marca estabelecida por Egito, em 1990, e pela Noruega, em 1994, de retornar a uma Copa depois de uma ausência de 11 torneios consecutivos. A diferença entre as marcas era que a Turquia tinha disputado sua primeira e única Copa até então em 1954, ou seja, depois da não realização de Copa nos anos de 1942 e 1946, totalizando 48 anos de ausência, enquanto que egípcios e noruegueses estrearam antes desse período, elevando o tempo para 56 anos de ausência, embora com os mesmos 11 torneios.

As regras da competição eram as mesmas de 1998.

Para chegar a este Mundial, o Brasil enfrentou várias dificuldades. Desde a eliminatória para a Copa de 1998, a América do Sul havia adotado um sistema onde todos se enfrentariam em jogos de ida e volta, e os melhores classificados ganhariam vaga na Copa. O Brasil, que, por ser o campeão de 1994, não disputou as eliminatórias da Copa da França, acabou perdendo 6 jogos nesta eliminatória. Antes disso só havia perdido para a Bolívia, na altitude de La Paz, nas eliminatórias de 1994. Esteve arriscado de não se classificar para o Mundial. Trocou duas vezes de técnico durante a longa passagem da competição. Iniciou com Wanderlei Luxemburgo, sendo substituído, após alguns fracassos por Emerson Leão, que por sua vez, há algumas partidas do final, foi substituído por Luis Felipe Scolari.

A seleção de “Felipão”, como era carinhosamente chamado o técnico brasileiro, chegou a Ásia sem figurar entre as favoritas. Constavam desse rol as ascendentes Portugal e Inglaterra, agora jogando um futebol mais habilidoso, a Espanha, e as duas mais temidas seleções desta Copa: a Argentina, que venceu disparado à frente a eliminatória sul-americana., e a atual Campeã, a França.

Na Copa das zebras, iniciamos num grupo relativamente fácil. Nossos adversários eram a Turquia, único europeu do grupo, embora todos os outros grupos tivessem dois europeus, a estreante China e Costa Rica. No primeiro jogo, contra os turcos, começamos perdendo por 1 x 0, mas viramos o placar no segundo tempo: Brasil 2 x 1 Turquia. O segundo gol do Brasil foi originado de um pênalti que, na verdade, ocorreu fora da área. No segundo jogo, contra a China, passamos fácil com um placar de 4 x 0 naquele que marcou o primeiro confronto e a primeira vitória do Brasil em Copas sobre uma seleção asiática, coincidentemente no torneio realizado na Ásia, além de registrar o primeiro gol brasileiros sobre asiáticos, saído dos pés do jogador Roberto Carlos ao abrir o placar. Ainda nesse jogo, o terceiro gol brasileiro, marcado de pênalti pelo jogador Ronaldinho Gaúcho, era o oitavo gol de pênalti marcado pelo Brasil em Copas, a melhor marca entre sul-americanos e a quarta melhor marca até então. No terceiro jogo, contra a Costa Rica, o Brasil passou por um certo susto. Vencíamos por 3 x 0 no primeiro tempo, quando, ao iniciar o segundo tempo, sofremos dois gols. Estes dois gols dos costarriquenhos, aliás, foram os primeiros gols sofridos pelo Brasil em Mundiais de uma seleção da Concacaf. Paul Wanchope, autor do primeiro gol costarriquenho, foi o primeiro jogador não pertencente à América do Sul ou à Europa a fazer gol no Brasil, já que ainda não havíamos sofrido gols de seleções africanas, asiáticas ou da Oceania. Mesmo assim, pusemos a cabeça no lugar e ampliamos o marcador para 5 x 2. Além disso, o terceiro gol do Brasil, anotado pelo meio-campista Edmílson, de bicicleta, foi o gol de número 50 de sul-americanos sobre seleções da Concacaf. O placar igualou o terceiro maior número de gols em um jogo de nossa seleção na História das Copas. Desde a final de 1958 o Brasil não participava de um jogo com 7 gols e não marcava 5 gols em uma partida. Aliás, em termos de gols, a campanha desta Primeira Fase se igualou a toda a campanha do Brasil em 1994, no tetracampeonato. Foram 11 gols marcados contra 3 sofridos, nos 7 jogos em 1994, nos EUA, e nos 3 jogos da Primeira Fase desse torneio.

Nos outros grupos, a Primeira Fase foi surpreendente.

Pelo Grupo A, a atual campeã e favorita França caiu diante da estreante Senegal no jogo de abertura por 1 x 0, e acabou, ao final da Primeira Fase, sendo desclassificada naquela que foi a pior campanha de um selecionado que entrava como atual campeão numa Copa. Além do 28º posto, sua pior campanha na história, a França saiu do Mundial sem anotar um gol sequer, e repetiu o fracasso da Itália, em 1950, e do Brasil, em 1966, ambos campeões do torneio anterior, desclassificados na Primeira Fase da Copa seguinte ao título. O empate em 0 x 0 com o Uruguai, na segunda rodada, marcou o jogo de número 600 da História das Copas. Na última rodada, o empate em 3 x 3 entre Senegal e Uruguai registrou o quinto jogador africano, Bouba Diop, a marcar dois gols em um mesmo jogo em Copas do Mundo, sendo o autor do segundo e terceiro gols dos senegaleses, que chegaram abrir 3 x 0 no placar. Esse empate também igualou a segunda maior marca de gols em um empate, atrás apenas dos resultados de 4 x 4 entre Bélgica e Inglaterra, em 1954, e entre Colômbia e URSS, em 1962, sendo o maior placar de empate com a participação de uma seleção africana.

No Grupo B, os gols que deram números finais às vitórias por 3 x 1 da Espanha sobre a Eslovênia e sobre o Paraguai, ambos marcados pelo jogador Fernando Hierro na cobrança de pênaltis, foram o segundo e o terceiro gol de Hierro marcado dessa forma na História das Copas, além do gol marcado sobre a Bulgária na Primeira Fase de 1998, tornando-se o terceiro jogador a alcançar essa marca, a segunda maior da História das Copas, e levando a Espanha a tornar-se a seleção mais beneficiada com gols de pênaltis, com 11 gols anotados dessa forma. Posteriormente, a Espanha ainda seria beneficiada com mais 4 gols de pênaltis. Ainda na vitória das Espanha sobre o Paraguai, o gol que abriu o placar para os paraguaios foi marcado contra pelo jogador espanhol Carlos Puyol, levando a Espanha a igualar a marca negativa do México de seleção com mais gols contra na História das Copas, 3 no total, considerando os gols marcados dessa forma em 1950 e 1998. Atualmente, o México retomou o registro de pior marca com mais um gol sofrido dessa forma.

Pelo Grupo D, a seleção coreana venceu sua primeira partida em Copas na primeira rodada ao marcar 2 x 0 sobre a Polônia, após 14 jogos sem vencer desde a estreia, a segunda pior marca, atrás apenas da Bulgária. Nesse jogo, o jogador sul-coreano Hong Myung-Bo tornou-se o primeiro jogador asiático a entrar em campo em 4 Copas. No segundo jogo, um empate em 1 x 1 com os EUA, registrando o primeiro empate entre uma seleção asiática e uma seleção da Concacaf. Os anfitriões passaram de fase em seus grupos, sendo que pelo Grupo D, da Coreia do Sul, houve a eliminação da favorita Portugal, na sua pior classificação da história até então: 21º lugar. O jogo entre EUA e Portugal, pela segunda rodada do grupo, terminou com a vitória norte-americana por 3 x 2. Nesse jogo, tanto o gol que anotou 2 x 0 no placar para os norte-americanos quanto segundo gol de Portugal que deu números finais ao jogo foram gols contra, algo inédito na História das Copas. Nenhum jogo além desse teve dois gols anotados dessa forma. O jogador português Jorge Costa e o jogador norte-americano Jeffrey Agoos foram, respectivamente, os autores dos gols para os EUA e para Portugal. Mais uma marca desse jogo: o primeiro gol português, marcado pelo jogador Beto ao diminuir o placar para 3 x 1 para os norte-americanos, foi o gol de número 1.800 da História das Copas. Outro jogo da Espanha na Primeira Fase, também com três gols marcados pelos espanhóis na vitória por 3 x 2 sobre a África do Sul, marcava o confronto de número 50 entre seleções da Europa e da África. A Polônia deixou a Copa igualando o registro negativo de maior sequência de uma seleção europeia sem marcar gols, ao ficar 4 jogos consecutivos sem balançar as redes, uma vez que não havia marcado gol nos dois últimos jogos de 1986, sua última participação antes desta Copa, e nos dois primeiros jogos dessa Copa.

Pelo Grupo E, a Alemanha, em sua estreia, alcançava a maior goleada de sua História, derrotando a Arábia Saudita por 8 x 0, que é também a terceira maior goleada já registrada, igualando o feito da Suécia sobre Cuba, em 1938, e do Uruguai sobre a Bolívia, em 1950. Na outra derrota dos sauditas, por 1 x 0, para Camarões, registrou-se a primeira vitória de uma seleção africana sobre uma seleção asiática.

No Grupo F, o chamado “grupo da morte”, Suécia e Inglaterra alcançavam suas vagas desclassificando a Nigéria e a favoritíssima Argentina, na pior campanha de suas histórias. A Argentina, aliás, perdeu para a Inglaterra por 1 x 0 na segunda rodada, sofrendo um gol de pênalti do jogador David Beckham, o segundo gol de pênalti consecutivo nesse confronto, já que Alan Shearer também havia marcado um gol de pênalti nesse confronto nas Oitavas de Final em 1998. Além disso, foi o 6º gol sofrido de pênalti pelos argentinos até então, a segundo pior marca, atrás apenas do Brasil, à época, com 9 gols sofridos dessa forma. Brasil e Argentina ainda ocupam as duas primeiras posições nesse quesito. O jogo entre ingleses e argentinos também igualavam a segunda maior marca de confrontos, com o 5º jogo entre essas seleções na História das Copas, na época, atrás apenas de Brasil e Suécia, com 7 confrontos. Na última rodada, o jogo entre Inglaterra e Nigéria, 0 x 0, foi o de número 50 entre europeus e africanos na história das Copas e o jogador nigeriano Femi Opabunmi, aos 17 anos e 101 dias, tornou-se o terceiro mais jovem jogador a participar de um jogo em Copa do Mundo.

No Grupo G, da Itália, o México terminou como 1º colocado eliminando a Croácia que havia obtido o 3º lugar na Copa anterior. O gol da vitória do México sobre a Croácia por 1 x 0, na estreia dessas seleções, foi o de número 50 de uma seleção da Concacaf sobre uma seleção europeia, anotado por Cuauhtémoc Blanco na cobrança de pênalti, o 8º gol dos mexicanos anotado por pênalti na História das Copas, sendo o maior número entre seleções da Concacaf e, na época, a quarta maior marca.

O anfitrião Japão, cabeça de chave do Grupo H, empatou em 2 x 2 com a Bélgica na primeira rodada, jogo que marcou o terceiro confronto de mais gols em empate com a participação de uma seleção asiática, igualando os confrontos de Coreia do Sul e Espanha, em 1994, e de África do Sul e Arábia Saudita, em 1998. Em seguida, venceu a Rússia por 1 x 0 no segundo jogo da seleção no grupo. O gol marcado pelo jogador Junichi Inamoto, foi o segundo gol dele nessa Copa, tornando-se o quarto jogador a conseguir tal feito por uma seleção asiática. Já o gol que deu números finais à derrota dos russos para os belgas por 3 x 2, marcado pelo jogador russo Dmitriy Sychov, foi o 10º gol da Rússia sobre a Bélgica na História das Copas. Também foi de Sychov a marca de 5º jogador mais jovem na História da Copas a marcar um gol, aos 18 anos e 232 dias. A Rússia também foi eliminada na Primeira Fase e também ocupou seu pior posto na história: 22º. No último jogo da Primeira Fase, nova vitória japonesa, 2 x 0 sobre a Tunísia, igualando o feito da Arábia Saudita, em 1994, ao alcançar 2 vitórias consecutivas e tornando-se a primeira seleção asiática a não sofrer gols por 2 jogos consecutivos. Pela primeira vez na história das Copas duas seleções asiáticas alcançavam a classificação na Primeira Fase.

Assim como no tetracampeonato brasileiro, esta Copa reservava o recorde de seleções não pertencentes ao eixo Europa/América do Sul na fase de Oitavas de Final: Coreia do Sul, Senegal, EUA, Japão e México. Era a primeira vez que a Ásia levava duas seleções a esta fase.

Ao lado das várias zebras, o Brasil partiu para as Oitavas de Final para jogar contra a Bélgica. Num jogo que começou nervoso, o Brasil chegou a sofrer um gol, ainda no primeiro tempo, anulado pela arbitragem, o que gerou uma certa dúvida. Entramos no segundo tempo com o 0 x 0 estampado no placar e, apesar de o jogo continuar bastante igual, a qualidade técnica do jogador brasileiro fez diferença e acabamos por vencer. Placar final, Brasil 2 x 0 Bélgica. O goleiro brasileiro Marcos teve uma excelente participação, sendo um dos responsáveis pela vitória.

Nos outros jogos, a Inglaterra, que era nossa próxima adversária, passou pela Dinamarca com um fulminante 3 x 0.

A surpresa africana, Senegal, desclassificou uma bem montada seleção sueca, num grande jogo, com o placar de 2 x 1, e chegou as Quartas de Final, assim com Camarões, em 1990. Com 2 gols nesse jogo, o senegalês Henri Camarra também alcançou essa marca para uma seleção africana, assim como seu companheiro de equipe, Bouba Diop conseguiu na Primeira Fase. Além disso, era o 4º jogo seguido desde a estreia em que os senegaleses estavam invictos, a melhor marca de uma seleção africana desde a estreia.

Um dos anfitriões, o Japão, caiu diante da Turquia: 0 x 1. O outro, a Coreia do Sul, passava pela Itália: 2 x 1, deixando a “Azurra” na pior classificação de sua história até então, em 15º lugar. O italiano Paolo Maldini tornou-se o terceiro jogador com mais jogos em Copas, participando de sua 23 partida. As duas Coreias, aliás, foram os piores carrascos da Itália em Copas até então, lembrando que em 1966, a Coreia do Norte desclassificou os italianos na Primeira Fase, no maior vexame da história desse país em mundiais, repetidos posteriormente em 2010 e 2014. O gol que abriu o placar para os italianos, marcado pelo jogador Cristian Vieri, foi o gol de número 1.900 na História das Copas. Já o gol que deu a classificação aos sul-coreanos foi marcado na prorrogação, com a regra do gol de ouro, pelo jogador Ahn Jung-Hawn, tornando-se o quinto jogador asiático a igualar a marca de dois gols em uma mesma Copa, além de ter sido o primeiro e até agora único gol em prorrogação de uma seleção asiática em Copas. Essa vitória também permitiu ao selecionado sul-coreano igualar a marca de 2 vitórias consecutivas em Copas, alcançado dias antes também pelo Japão e em 1994, pela Arábia Saudita.

E México e EUA protagonizaram o primeiro confronto com a participação de duas seleções não pertencentes aos dois principais centros do futebol, América do Sul e Europa, não ocorrido numa Primeira Fase.

O Eire foi desclassificado pela Espanha nos pênaltis, após um empate em 1 x 1 no tempo normal, deixando a Copa de forma invicta.

Às Quartas de Final foi a pior participação de europeus desde que esse modelo, com Oitavas de Final e Quartas de Final, foi criado em 1986. Foram apenas a metade dos participantes, ou seja, 4 seleções.

E essa fase nos reservava o pior adversário da Copa. Era a quarta vez que enfrentávamos os ingleses e, nas três primeiras (1958, 1962 e 1970) havíamos ficado com o título do torneio. Em seu 50º jogo na história das Copas, a Inglaterra entrava em campo como uma das favoritas ao título, e impunha, logo de início, o seu jogo. Desfalcado de Ronaldo “Fenômeno”, autor de 5 gols para a seleção brasileira até então, devido a um antigo e preocupante problema no joelho, o Brasil foi dominado até a primeira metade do primeiro tempo. E, numa falha da zaga brasileira, Owen abriu o placar para os ingleses. Passado o susto, os brasileiros equilibraram o jogo, e há alguns minutos do final da primeira etapa, o outro Ronaldo, o Gaúcho, numa arrancada cheia de finta de corpo, deixou Rivaldo na cara do gol para empatar o jogo. Com esse gol, Rivaldo alcançava a marca de 8 gols em Copas, em duas participações (1998 e 2002), a quarta melhor marca de jogadores brasileiros, igualando lendas como Leônidas da Silva (1934 e 1938) e Ademir de Menezes (1950). Partíamos para o segundo tempo com o placar igual: 1 x 1. Resolvendo assumir o papel do ausente Ronaldo “Fenômeno”, Ronaldo Gaúcho, no início do segundo tempo, cobra com perfeição uma falta da intermediária direita do ataque brasileiro, acertando o ângulo oposto do goleiro Seeman. Era a virada. Minutos depois, porém, numa falta totalmente desnecessária, Ronaldo Gaúcho foi expulso de campo. Mesmo com um homem a menos, conseguimos segurar o placar daquele que foi, sem dúvidas, o melhor jogo da Copa. Estávamos na Semifinal.

Nos outros jogos, a Coreia avançou à Semifinal ao derrotar a Espanha, nos pênaltis, após um empate de 0 x 0 no tempo normal e na prorrogação. Houve muita reclamação dos espanhóis referente a um gol anulado de forma equivocada pela arbitragem, dando saída de bola no cruzamento, fato que não ocorreu. De qualquer forma, era a primeira vez que um selecionado asiático chegava a uma Semifinal de Copa do Mundo. E era a segunda seleção não pertencente à América do Sul ou à Europa a figurar entre os quatro primeiros colocados, já que a primeira havia sido a seleção dos EUA, em 1930, alcançando o 3º lugar naquele torneio. A Espanha também abandonou a Copa de forma invicta.

A Alemanha, com um magro 1 x 0 sobre os EUA, mesmo placar conseguido sobre o Paraguai, nas Oitavas de Final, alcançou, também, as Semifinais.

E a Turquia, vencendo os surpreendentes senegaleses, era o adversário do Brasil, pela segunda vez nesta Copa, assim como ocorreu no título de 1994, com a Suécia. Apesar da derrota, Senegal alcançou a 7ª colocação na Copa, igualando o recorde de melhor classificação de um time africano, pertencente à seleção de Camarões de 1990 e também passando por duas prorrogações, como aconteceu com os camaroneses. Além disso, a derrota para a Turquia aconteceu com um gol de pênalti, marcado pelo jogador turco Ílhian Mansiz na prorrogação. Além desse gol, Senegal já havia sofrido outros dois gols de pênaltis na Primeira Fase, para Uruguai e para Dinamarca, tornando-se a 2º seleção com mais gols sofridos de pênaltis em uma edição de Copa do Mundo, atrás apenas da seleção do Irã, de 1978, que sofreu 4 gols durante a Copa da Argentina.

Entramos nas Semifinais com uma “inversão de Ronaldos”. Ronaldo Gaúcho, expulso no jogo anterior, desfalcava o Brasil. Já Ronaldo “Fenômeno”, ausente no jogo anterior, retornava ao time. O jogo foi muito amarrado no meio campo, porém o Brasil mostrou maior superioridade que no jogo de estreia. No segundo tempo, após o empate em 0 x 0 da primeira etapa, o artilheiro Ronaldo deixou, de “bico”, a sua marca nas redes turcas, assumindo a artilharia da Copa. Vencemos por 1 x 0 e chegamos à Final, pela terceira Copa consecutiva, igualando o recorde da Alemanha.

A Alemanha, aliás, era a nossa adversária. Novamente com o marcador mínimo de 1 x 0, os alemães bateram os donos da casa, a seleção da Coreia do Sul, no jogo que marcou sua 50ª vitória em Copas, e se classificaram para decidir com o Brasil, tendo sofrido apenas 1 gol na competição e se tornando a nona seleção a alcançar a segunda melhor sequência de partidas sem sofrer gols, com 4 jogos sem ser vazada. A Coreia do Sul que registrava a pior sequência sem vitórias de uma seleção asiática na História das Copas, agora ostentava a maior sequência de invencibilidade de uma seleção asiática, num total de 6 jogos, com dois jogos invictos nas duas últimas rodadas da Primeira Fase de 1998 e os quatro jogos de invencibilidade até a fase anterior dessa Copa.

Um dia antes da Final, Turquia e Coreia do Sul, a dona da casa, fizeram um espetáculo de cinco gols na decisão do 3º lugar. Os turcos venceram os donos da casa por 3 x 2 e levaram a terceira posição. O atacante Sukur entrou para a história ao anotar o gol mais rápido de todas as Copas, aos 11 segundos de jogo. Outro turco, Ilhan Mansiz, foi responsável por marcar o 100º gol de europeus sobre asiáticos ao estabelecer 2 x 1 no placar, e também foi o autor do 10º gol marcado pelos turcos sobre os sul-coreanos na História das Copas ao anotar 3 x 1 no placar. Ao final do jogo, a decepção tomou conta dos sul-coreanos. Porém, num ato de elegância e fairplay, os turcos, comandados por Sukur, convidaram o time sul-coreano para comemorar junto à torcida o grande espetáculo apresentado em campo. O jogador sul-coreano Hong Myung-Bo também registrou o recorde de jogos por um jogador asiático na História das Copas, com 16 participações.

No dia seguinte, em Yokohama, entraram em campo para fazer a maior Final da História das Copas até agora, as equipes de Brasil e Alemanha. No curriculum dos finalistas, as seguintes indicações: as seleções com maior número de participação em Copas: Brasil, 17 e Alemanha, 15; as seleções que há mais tempo não ficavam ausente de uma Copa: o Brasil nunca se ausentou e a Alemanha não se ausentava desde 1950; os dois maiores campeões: Brasil, 4 títulos, Alemanha, 3 títulos; as seleções que mais disputaram finais: considerando 2002, eram 7 finais para cada uma; as seleções que mais chegaram às Semifinais, também considerando 2002, ambas chegaram a 10 Semifinais; as seleções que mais jogaram em Copas: antes da Final, o Brasil havia participado de 86 jogos e a Alemanha de 84; os mais vitoriosos em Copas: também antes da Final, o Brasil tinha 59 vitórias e a Alemanha, 50; e as seleções que mais haviam marcado gols em Copa: novamente antes da Final, o Brasil havia marcado 189 gols e a Alemanha 176. Apesar de todo este histórico, brasileiros e alemães nunca haviam se enfrentado antes em Copa do Mundo. Era, sem sombra de dúvidas, o tira-teima entre o melhor futebol e o futebol mais eficiente.

O jogador brasileiro Cafu, lateral direito e capitão da equipe brasileira, tornou-se o primeiro jogador da História das Copas a entrar em campo em três finais consecutivas. Nem mesmo o rei Pelé conseguiu esse feito.

Começamos a partida dominando o jogo com razoável facilidade. Os alemães não chegavam ao gol do brasileiro Marcos, enquanto que o goleiro alemão Oliver Kanh foi responsável por defesas que mantiveram o placar do primeiro tempo inalterado: Brasil 0 x 0 Alemanha. Tivemos, no mínimo, três grandes chances de gol, mas desperdiçamos. Voltamos no segundo tempo um pouco sonolentos e vimos os alemães acertarem a trave brasileira, numa cobrança de falta que só não entrou graças a um leve desvio do goleiro Marcos. Retomamos a iniciativa do jogo, e não demorou muito para abrirmos o placar. Numa falha do goleiro alemão, que soltou a bola, após um chute de Rivaldo da entrada da área, o atacante Ronaldo “Fenômeno” carimbava a rede alemã: Brasil 1 x 0. Partimos novamente ao ataque, e numa linda deixada de Rivaldo, após um toque da lateral direita de Kleberson, o artilheiro Ronaldo “Fenômeno”, livre na cara do gol, deu o golpe de misericórdia, fazendo o segundo gol brasileiro. Os alemães até tentaram reagir mas o goleiro Marcos, em dia inspirado, barrou todas as tentativas dos europeus. Final de jogo, Brasil 2 x 0 Alemanha. Eramos pentacampeões mundiais. Foi a segunda vitória brasileira em Finais com menos gols e a segunda Final em que o Brasil não sofria gols.

Nesta 60ª vitória brasileira em Copas, igualamos o feito da seleção argentina de 1978, terminando a Copa com o título de Campeões, Melhor Ataque, com 18 gols, e Artilheiro da Competição, Ronaldo “Fenômeno”, 8 gols, a mesma marca de Ademir de Menezes (1950) como o maior artilheiro brasileiro em uma única Copa e a 5ª marca no geral. Era apenas a 4ª vez na história das Copas em que o artilheiro pertencia a seleção campeã e o Brasil ostentava esse feito pela 2ª vez, já que tinha sido a primeira a alcançar tal marca, em 1962. Também era a primeira vez na história das Copas que uma seleção emplacava pelo quarto torneio o melhor ataque. Os números do Brasil nesta Copa, aliás, foram os melhores desde 1974, quando uma seleção, para ser campeã, passou a necessitar de 7 jogos. Foi também a única Copa, desde 1974, a ter um artilheiro com média superior a 1 gol por jogo. Além disso, esses gols, somados aos 4 gols marcados em 1998, ajudaram o atacante Ronaldo a igualar o recorde de gols marcados por um jogador brasileiro na história das Copas, pertencente a Pelé, com 12 gols entre 1958 a 1970, e, com os 2 gols da final, igualar o recorde de gols marcado por um jogador brasileiro em uma final, pertencentes a Pelé e a Vavá, com 2 gols na final de 1958. Mais do que isso, o Brasil superava os 100 gols de saldo positivo, com 109 gols, sendo 191 marcados e 82 sofridos. E a sequência de vitórias fez do Brasil a única seleção a vencer uma Copa com 7 vitórias, feito que igualou o recorde de vitórias consecutivas pertencente à Itália desde o título de 1938.

Mais uma vez vencemos fora de nosso continente. E mais uma vez os Europeus mantiveram o tabu de não vencer fora de seus domínios. Aliás, essa foi a pior participação da Europa, desde 1970, quando apenas 4 seleções europeias chegaram às Quartas de Final e apenas duas às Semifinais, fato que também ocorreu em 1978. E foi a única vez em que 3 selecionados não pertencentes à Europa ou à América do Sul estavam presentes nas Quartas de Final. Antes disso, o máximo de participação alcançada era de 1 seleção.

O pentacampeonato também nos deu a vantagem de 2 títulos sobre as seleções que estavam em segundo lugar em número de títulos, a nossa adversária Alemanha e a Itália, com 3 títulos, fato nunca ocorrido até hoje. Lamentou-se, apenas, o fato de o Campeão não estar classificado automaticamente para disputar a próxima Copa, regra estabelecida pela FIFA, a partir desse Mundial.

O resultado de 1 x 1, repetido em 10 jogos nessa Copa, tornou-se o empate mais repetido em uma edição de Copa do Mundo e a vitória por 1 x 0, repetida em 15 confrontos, a segunda vitória e o segundo placar mais repetido em uma edição.

Definitivamente, o melhor futebol venceu o futebol eficiente.