História da Copa do Mundo de 1970

México, 1970 – A conquista da “JULES RIMET”

Pela primeira vez a Copa aterrissava na América do Norte. O México era a sede do nono Mundial de futebol. Foram inscritos 75, países, mais uma vez superando o número da Copa anterior. Destes, saíram os 16 selecionados classificados: Brasil, Peru e Uruguai, pela América do Sul; México e a estreante seleção de El Salvador, pela Concacaf; a estreante seleção de Marrocos, pela África, que voltava a classificar uma seleção para Copa, fato que só havia acontecido em 1934; e Alemanha Ocidental, Bélgica, Bulgária, Inglaterra, Itália, Romênia, Suécia, Tchecoslováquia, URSS e a estreante seleção de Israel, pela Europa. Foram 3 estreantes, 5 seleções que retornaram após a ausência em Copas anteriores e 8 seleções que participaram de forma consecutiva. Três destas seleções tinham condições de levar, definitivamente, a taça JULES RIMET. Brasil, Itália e Uruguai ostentavam dois títulos, necessitando apenas de mais um triunfo para conseguir a posse definitiva do troféu.

O Brasil chegou ao torneio, mais uma vez, com problemas. O jornalista e técnico João Saldanha, que classificou o Brasil à Copa com a memorável campanha nas eliminatórias de 6 jogos, 6 vitórias, 23 gols marcados, apenas 2 sofridos, perdeu o comando da seleção três meses antes do início do torneio. Zagallo, jogador campeão nas Copas de 1958 e 1962, assumiu seu cargo. Na seleção, cinco jogadores usavam a camisa de número 10 em seus clubes: Jairzinho, no Botafogo, Gérson, no São Paulo, Tostão, no Cruzeiro, Rivelino, no Corinthians e Pelé, no Santos. Para a Copa, porém, o número 10 coube à Pelé, que imortalizaria tal camisa.

Trocando poucos jogadores do elenco e mantendo o time titular, o Brasil estreou contra a Tchecoslováquia, naquele que marcaria, pela primeira vez, o quinto confronto entre duas seleções na história das Copas. Começamos sofrendo um gol, mas viramos magistralmente o jogo, encerrando o placar em 4 x 1. O gol que deu números finais ao jogo, do jogador Jairzinho, foi o 10º gol brasileiro sobre os tchecos na História das Copas. Além de marcar o quinto confronto, marcava também a maior invencibilidade de uma seleção sobre outra em confronto até então, tendo o Brasil como protagonista, marca esta que seria igualada em 1990 pela Itália e quebrada pelo próprio Brasil em 1994. A Inglaterra, ao vencer a Romênia por 1 x 0, juntando às cinco vitórias consecutivas da Copa passada, marcava a segunda melhor sequência de vitórias em Copas com 6 vitórias, perdendo apenas para a seleção italiana de 1934 e 1938. No segundo jogo, o Brasil enfrentou a Inglaterra naquele que foi o jogo mais difícil para o Brasil nesta Copa. Campeões do Mundial anterior, os ingleses dificultaram ao máximo o selecionado brasileiro, que, ao final, consegui apenas o placar de 1 x 0. Para finalizar a Primeira Fase, o Brasil venceu a seleção romena, com um certo susto, por 3 x 2, no jogo que registrou o 3º jogador brasileiro mais jovem a jogar em uma Copa do Mundo, o zagueiro Marco Antônio, com 19 anos e 124 dias.

No grupo A, em seu segundo jogo na Copa, o México venceu El Salvador pelo placar de 4 x 0, no primeiro confronto entre países da Concacaf, a primeira vitória nesse tipo de confronto e também o primeiro em Copas onde não estiveram em campo nenhum selecionado sul-americano ou europeu. O primeiro gol mexicano, marcado pelo jogador Javier Valdivia, foi também o primeiro gol de uma seleção da Concacaf sobre outra seleção da Concacaf. E o placar final de 4 x 0 é ainda a maior vitória de uma seleção da Concacaf em Copas. No jogo seguinte, ao vencer a Bulgária por 1 x 0, o México conseguiu igualar o recorde dos norte-americanos em número de vitórias consecutivas de uma seleção da Concacaf com 2 triunfos, marca que ainda igualaria em outras três Copas futuras.

Já no grupo D, a estreante Marrocos conseguiu marcar o primeiro ponto de um selecionado africano em Copas ao empatar com a Bulgária em 1 x 1 no jogo que marcou o primeiro empate entre uma seleção africana e uma seleção europeia em Copas. No jogo anterior, a seleção africana foi derrotada por 3 x 0 pelo Peru, no primeiro confronto e vitória de uma seleção sul-americana sobre uma seleção africana na História das Copas. O gol de abertura do placar, do peruano Teófilo Cubillas, foi o primeiro gol de uma seleção sul-americana sobre uma seleção africana. A Bulgária também sofreu a pior derrota da Copa no jogo contra os alemães, que anotaram 5 x 2 no placar. O artilheiro alemão Gerd Müller, ao marcar 5 x 1 sobre os búlgaros, registrou o gol de número 800 em Copas do Mundo. Müller também igualou o feito do húngaro Sándor Kocsis, em 1954, e do francês Just Fontaine, em 1958, ao anotar ao menos três gols em duas partidas: 5 x 2 sobre a Bulgária e 3 x 1 sobre o Peru.

Passado a Primeira Fase, o Peru, dirigido pelo brasileiro Didi, que foi jogador da seleção brasileira em Copas anteriores, era nosso adversário. Vencemos com certa tranquilidade, apesar das falhas do goleiro brasileiro Félix. O gol de abertura do placar, marcado pelo brasileiro Rivelino, foi o 10º da seleção brasileira sobre uma seleção sul-americana na História das Copas. Placar final, Brasil 4 x 2 Peru.

Em outra partida válida pelas Quartas de Final, Alemanha Ocidental e Inglaterra protagonizaram a primeira repetição de confronto com os finalistas da Copa anterior. O jogo foi intenso, com direito à virada dos alemães após estarem perdendo por 0 x 2, terminando em empate por 2 x 2 no tempo regulamentar, assim como aconteceu na decisão da Copa passada. Mas desta vez, a vitória foi alemã, garantida na prorrogação com mais um gol do artilheiro alemão Gerd Müller.

No jogo entre Itália e México, vencida pelos italianos por 4 x 1, os mexicanos começaram vencendo a partida, mas sofreram o empate com um gol contra do jogador Javier Guzman, o 3º gol contra de mexicanos na história das Copas, um recorde negativo para a seleção da Concacaf que foi igualado em 2002 pela Espanha e retomado em 2018 pelos mexicanos.

O Uruguai também passou por seu adversário, a forte URSS, com um magro 1 x 0 feito na prorrogação, juntando-se a Brasil, Itália e Alemanha nas Semifinais. Era a primeira vez na história das Copas que uma Semifinal reunia quatro seleções já campeãs anteriormente, sendo que três delas poderiam conquistar definitivamente a taça, com três títulos.

O oponente brasileiro era a temível seleção uruguaia, que havia nos tirado o título de 1950, em pleno Maracanã. E a “Celeste Olímpica” começou assustando. Marcou o primeiro gol do jogo, através de Cubillas. O Brasil não se abateu. Clodoaldo empatou o jogo e Jairzinho virou o placar, anotando o gol de número 100 do Brasil na história das Copas. Rivelino deu números finais ao jogo, afastando o fantasma de 1950, também de virada. Placar final: Brasil 3 x 1 Uruguai e a vaga na Final, garantida.

Na outra Semifinal, a Itália derrotou a Alemanha num memorável 4 x 3, que foi, ao lado da maior goleada do torneio, Alemanha 5 x 2 Bulgária, a mais baixa goleada dentre todas as Copas, o jogo com o maior número de gols desta Copa. O jogo acabou em 1 x 1, com os alemães empatando no último minuto de jogo. Na prorrogação, a segunda seguida dos alemães nessa Copa, Müller abriu placar para sua seleção, virando o jogo. Mas os italianos viraram novamente em 3 x 2 antes da primeira metade do templo extra. Novamente Müller empatava para os alemães, mas os italianos, com Gianni Rivera, davam números finais ao placar e garantiam a classificação para a final. Além de ser o maior placar em uma prorrogação, com 5 gols no tempo extra, esse jogo também foi o quarto de alemães e italianos que precisaram de um tempo adicional na História das Copas, igualando a marca que os tchecos atingiram em 1958 e posteriormente quebrada pelos próprios alemães. Müller, com os dois gols anotados na prorrogação, tornou-se o quarto jogador da História das Copas a atingir tal feito.

Na disputa pelo Terceiro lugar, após marcar sete gols nos últimos dois jogos, os alemães precisaram apenas de mais um gol para vencer os uruguaios: 1 x 0. Coube à Alemanha Ocidental a vitória e a posição.

Brasil e Itália compunham a primeira final entre seleções já campeãs da história e a que definiria a posse definitiva da taça JULES RIMET, já que ambas colecionavam dois títulos mundiais. O jogo teve como palco o estádio Azteca, na Cidade do México. O marcador é aberto pelo Brasil, com gol de Pelé, o segundo mais velho jogador brasileiro a marcar em uma final de Copa, aos 29 anos e 241 dias. Este gol, somado aos 2 gols marcados na final de 1958, colocava Pelé como recordista de gols em finais de Copas, ao lado de outro brasileiro, Vavá, e do inglês Hurst, que marcou os três gols em uma única final, em 1966. Boninsegna, aproveitando uma falha de Clodoaldo empatou a partida, definindo o primeiro tempo. Clodoaldo é o segundo jogador brasileiro mais jovem a jogar e a vencer uma final de Copa do Mundo, aos 20 anos e 269 dias. De volta ao segundo tempo, o selecionado brasileiro arrasou a Itália. Com um toque de bola estonteante e a experiência de nossa seleção, o Brasil desempatou com Gérson, o terceiro mais velho jogador brasileiro a fazer gol em uma final de Copa, aos 29 anos e 161 dias. Pelé serviu para Jairzinho fazer o terceiro gol brasileiro e para Carlos Alberto, num chute que quase furou a rede do goleiro Albertosi, selar o destino da JULES RIMET. O Brasil tornou-se o primeiro tricampeão da história com um brilhante placar de 4 x 1 sobre os italianos, a segunda maior vitória de uma seleção na História das Copas, perdendo apenas para o primeiro título brasileiro, em 1958.

Mais do que o campeonato e a taça, a seleção brasileira também se tornou a primeira seleção a conquistar pela terceira vez o título de melhor ataque da Copa, com 19 gols em 6 jogos, repetindo os feitos de 1950 e 1962. Vencendo todos os 6 confrontos, o Brasil se igualou ao Uruguai, em 1930 e à Itália, em 1938, conquistando o título apenas com vitórias, fato que só se repetiria na Copa de 2002, novamente com o Brasil. Vale salientar que o Brasil também passou pela eliminatória apenas com vitórias, igualmente em 6 jogos, fato não repetido por nenhum outro campeão. Além disso, a sequência de vitórias igualou a marca que a Inglaterra havia alcançado no início dessa Copa como a segunda melhor sequência da História das Copas até então.

Jarzinho, o “furacão da Copa”, anotou gols em todos os jogos, num total de 7 gols e tornou-se o único jogador até o momento a conseguir anotar gols em todos os jogos de uma edição de Copa do Mundo, além de alcançar a 3ª melhor marca de artilharia entre brasileiros em uma só Copa do Mundo, ao lado de Leônidas da Silva. Mas foi do alemão Gerd Müller o título de artilheiro, com 10 gols, superando a marca do português Eusébio na Copa passada e assumindo o 3º posto de maior artilheiro em uma edição de Copa do Mundo.

Somente o Rei Pelé, único jogador a conquistar três títulos mundiais na história do torneio, poderia deixar na lembrança dos esportistas do mundo inteiro três lances de gols não convertidos. O primeiro, no jogo de estreia contra a Tchecoslováquia, Pelé tenta o gol num chute de trás da linha de meio de campo. A bola encobriu o goleiro Viktor, que, no desespero, observou-a passar a esquerda, rente ao seu gol. No segundo jogo, contra a Inglaterra, acontece o lance que imortalizou o goleiro Gordon Banks. Pelé sobe e cabeceia a bola para o chão. Ela toca o gramado e, a alguns centímetros acima e quase sobre a risca fatal, é desviada pelo goleiro inglês, passando por cima de sua trave, em escanteio. Finalmente, contra o Uruguai, Pelé é lançado frente a frente com o goleiro Mazurkiewicz. Antes de tocar na bola, porém, Pelé aplica um drible da vaca sobre o goleiro uruguaio. Pelé alcança a bola, dentro da área, no lado direito do ataque brasileiro, chutando cruzado, sem acertar o gol. Há quem afirme que um zagueiro uruguaio, na tentativa de salvar o gol, tocou a bola com o calcanhar, desviando-a a escanteio. Porém, o árbitro da partida interpretou o lance como tiro de meta.

Com os quatro gols marcados nesta Copa, Pelé alcançou a marca de 12 gols em Copas, figurando como recordista entre jogadores brasileiros até a Copa de 2006, quando Ronaldo Fenômeno passou a ser o maior artilheiro de todas as Copas, depois superado pelo alemão Miroslav Klose, em 2014. Também conseguiu, ao lado do alemão Uwe Seeller, o recorde de marcar gols em 4 Copas diferentes, ambos, de 1958 a 1970, recorde somente igualado em 2014, pelo outro alemão recordista, Miroslav Klose. Seeller também se tornou o jogador a participar de mais jogos em Copas do Mundo até então, com 21 jogos.

O técnico brasileiro, Mário Jorge Lobo Zagallo, tornou-se o primeiro atleta da história a colecionar títulos como jogador e como treinador, além de se tornar o segundo mais jovem técnico a vencer uma Copa do Mundo, com pouco mais de 39 anos, superado apenas pelo técnico uruguaio de 1930.

A taça do mundo era nossa!