História da Copa do Mundo de 1986

México, 1986 – De volta ao país do tri

Pela primeira vez na história um país teria uma segunda oportunidade de sediar uma Copa. O país era o México, terra do tri brasileiro, que ocupou a vaga da desistente Colômbia. Em 1985, um terremoto de trágicas proporções atingiu a capital, Cidade do México. Mas os mexicanos lutaram e conseguiram se reorganizar a tempo de sediar o Mundial.

Os Inscritos eram 121 países e 24 chegaram a Copa: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, pela América do Sul; México e o estreante Canadá, pela Concacaf; Marrocos e Argélia, pela África; Coreia do Sul e o estreante Iraque, pela Ásia; Alemanha Ocidental, Bélgica, Bulgária, Escócia, Espanha, França, Hungria, Inglaterra, Irlanda do Norte, Itália, Polônia, Portugal, URSS e a estreante Dinamarca, pela Europa. Pela primeira vez na história das Copas, os 7 melhores classificados de uma Copa – 1982 – disputavam a Copa seguinte – 1986. Foram 3 estreantes, 8 seleções que retornaram após a ausência em Copas anteriores e 13 seleções que participaram de forma consecutiva.

Novamente o torneio mudava de regras. Ainda como em 1982, a Primeira Fase teria seis grupos com quatro seleções cada, jogando entre si dentro do grupo. Os classificados, porém, não eram mais doze e sim dezesseis, compondo a fase de Oitavas de Final. Além dos dois primeiros colocados de cada grupo, os quatro melhores dentre os seis terceiros colocados garantiriam a passagem às Oitavas de Final. Estas seriam realizadas na base de eliminatórias simples. Os oito classificados passariam às Quartas de Final, com o mesmo sistema de classificação. Quatro chegariam às Semifinais e os dois vencedores à final.

O Brasil partiu para o México, novamente, sob o comando de Telê Santana. A seleção não era a mesma de 1982 e nem jogava tão bonito. Era uma mescla de jovens e inexperientes jogadores com craques em fim de carreira.

No primeiro jogo, contra a Espanha, o Brasil conseguiu sua primeira vitória, 1 x 0, apesar das reclamações dos espanhóis sobre um lance, ainda quando o placar marcava 0 x 0, em que a bola tocou o travessão e pingou além da linha de gol. O árbitro da partida, assim como seu auxiliar, não considerou o gol, prejudicando o selecionado espanhol. O gol do jogador brasileiro Sócrates foi o décimo gol de nossa seleção sobre os espanhóis na História das Copas. Este jogo assinalou a primeira vez em que duas seleções se enfrentariam cinco vezes em cinco Copas diferentes. Antes de 1986, Brasil e Espanha se enfrentaram em 1934, 1950, 1962 e 1978. O segundo jogo do Brasil foi contra a Argélia. Mais uma vez um magro 1 x 0. Para finalizar, o começo do que parecia ser a arrancada do selecionado brasileiro. Derrotamos a seleção da Irlanda do Norte por 3 x 0, no dia em que seu goleiro, Pat Jennings, completava 41 anos de idade, tornando-se, até aquele momento, o jogador mais velho a jogar uma partida de Copa do Mundo. Atualmente, essa é a quarta marca.

Pelo Grupo A, Itália e Argentina marcavam outro recorde. Pela primeira vez na história, duas seleções se enfrentavam pela quarta Copa consecutiva. O primeiro jogo foi em 1974. Na última rodada do grupo, a Itália venceu a Coreia do Sul por 3 x 2 e o terceiro gol italiano foi um gol contra do jogador Cho Kuang-Rae, tornando a seleção italiana a mais beneficiada em gols contra até aquele momento na História das Copas, com 4 gols. Atualmente, ocupa a segunda posição, atrás apenas da França. Já a Bulgária, mesmo sendo derrotada na última rodada pelos argentinos por 2 x 0 e sem ter vencido nenhum jogo desde a estreia, em 1962, num total de 15 jogos sem triunfar, conseguiram a classificação para as Oitavas de Final graças aos dois empates alcançados nos primeiros jogos do grupo.

Pelo Grupo B, o jogo de encerramento do grupo entre México e Iraque, vencido pelos mexicanos por 1 x 0, marcou o primeiro confronto entre uma seleção da Concacaf e da Ásia, a primeira vitória e o primeiro gol de uma seleção da Concacaf sobre uma seleção asiática, através do jogador Fernando Quirarte.

Pelo Grupo C, o gol de abertura do grupo, na vitória da França por 1 x 0 sobre o Canadá, anotado por Jean-Pierre Papin, foi o gol de número 1.200 na História das Copas. Além disso, a Hungria anotou 2 x 0 sobre o Canadá e Lajos Detari, ao dar números finais ao placar, anotava o 100º gol de uma seleção europeia sobre uma seleção da Concacaf. O Canadá deixou a Copa sem marcar gols, repetindo o que já havia acontecido duas vezes com a Bolívia e uma vez com El Salvador, Austrália e Zaire em Copas passadas.

Outra curiosidade marcou o grupo F da Copa. A seleção de Marrocos, com dois empates e uma vitória, se tornou a primeira seleção africana a passar de fase. Já os ingleses, que não balançaram a rede nas duas primeiras partidas desta Copa, assim como nas duas últimas partidas da Copa de 1982, registraram a marca negativa de 4 jogos consecutivos em Copas sem marcar gols, a segunda pior marca da História das Copas, igualando-se ao Peru, que atingiu essa marca na Copa passada..

Nas Oitavas de Final, era a primeira vez na História das Copas em que dois selecionados não pertencentes ao eixo Europa/América do Sul alcançavam a fase seguinte, que desde 1982 passou a ser as Oitavas de Final, com a classificação do México e de Marrocos. O México passou pela Bulgária, enquanto que Marrocos chegou perto, mas não conseguiu segurar a forte seleção alemã e deixou a Copa na derrota por 1 x 0. A vitória dos mexicanos sobre os búlgaros não só marcou a classificação da seleção da Concacaf pela segunda vez às Quartas de Final de uma Copa, mas também ajudou a transferir para os Búlgaros a marca negativa de seleção com maior sequência de jogos sem vitórias, inclusive desde a estreia, com 16 partidas sem comemorar ao final do jogo. Antes dessa Copa, os mexicanos detinham a marca de 13 jogos nessa situação, enquanto os búlgaros registravam 12.

O adversário brasileiro era a Polônia e o Brasil parecia querer realmente se firmar na competição. Foi um fulminante 4 x 0, com direito ao 100º gol brasileiro sobre uma seleção europeia no gol do centroavante Careca que dava números finais ao jogo. Esse gol, juntamente ao primeiro gol do jogo, marcado pelo jogador Sócrates, foram convertidos em cobrança de pênaltis. Foi a primeira e única vez até então na História das Copas que o Brasil anotou dois gols de pênalti em uma única partida. Além disso, no gol marcado através dos pés de Sócrates, o Brasil anotou o décimo gol no confronto com a seleção polonesa em Copas. Com mais uma vitória sem sofrer gols, a seleção brasileira do goleiro Carlos tornou-se a oitava na História das Copas a alcançar a marca de 4 jogos sem ser vazada, repetindo o feito de outras três seleções brasileiras e que seria quebrado na Copa seguinte, pela Itália. Do outro lado, o jogador polonês Wladislaw Smuda igualou o recorde até então estabelecido pelo alemão Uwe Seeler de jogar 21 jogos em Copa do Mundo, desde sua estreia em 1974 até esta partida, tendo enfrentado o Brasil em três de quatro Copas:1974, 1978 e 1986.

Bélgica e URSS fizeram um emocionante jogo, com direito a prorrogação igualmente emocionante. O tempo normal terminou em 2 x 2, com os russos à frente no placar duas vezes. Na prorrogação, os belgas fizeram mais dois gols, um em cada tempo. O gol de Igor Belanov, seu terceiro no jogo, deu números finais ao placar, 4 x 3 para os belgas, que ficaram com a classificação para a próxima fase.

A Espanha goleou a surpreendente Dinamarca, que havia goleado o Uruguai por 6 x 1 na Primeira Fase e agora sofria um marcante revés de 1 x 5, sendo que o único gol dinamarquês, que abriu o marcador e foi anotado por Jesper Olsen, também foi o gol de número 500 nos confrontos entre europeus na história das Copas. Emílio Butrageño, com 4 gols na partida, tornou-se o sexto jogador a alcançar tal recorde, que seria quebrado duas Copas depois. O gol de abertura do placar para a Dinamarca, de Jesper Olsen, o terceiro gol espanhol, de Butrageño, e o quinto gol espanhol, de Andoni Goikoetchea, foram todos anotados por cobrança de pênaltis, tornando-se um recorde de pênaltis convertidos em uma única partida.

Sobre os outros campeões mundiais, Itália e Uruguai ficaram pelo caminho em clássicos continentais, derrotados por França e Argentina, respectivamente, enquanto que a Inglaterra passava fácil pelo Paraguai. O confronto sul-americano entre argentinos e uruguaios marcou o jogo de número 400 da História das Copas. Já na disputa entre Inglaterra e Paraguai,o terceiro gol inglês, que deu números finais ao jogo, anotado pelo atacante Gary Lineker, foi o gol de número 1.300 na História das Copas.

Nas Quartas de Final, o Brasil enfrentou a França de Michel Platini. Lembrando que até este jogo a seleção brasileira não havia sofrido um gol sequer. Entramos em campo e logo fizemos 1 x 0. Antes do final do primeiro tempo, porém, Platini empatou a partida naquele que foi o primeiro e único gol sofrido pelo Brasil na Copa, igualando o recorde de Inglaterra e Camarões, em 1982. No segundo tempo, o time brasileiro criou inúmeras chances de gol sem conseguir converter nenhuma. Uma delas foi o pênalti sofrido pelo jogador Branco, cobrado por Zico, que acabara de entrar, nas mãos do goleiro Bats. O jogo foi à prorrogação, onde o selecionado brasileiro continuou perdendo chances até o apito final. O resultado de 1 x 1 marcou o 10º empate brasileiro com uma seleção europeia na História das Copas, o que levou o jogo à disputa de pênaltis, a segunda da História das Copas, e, pela segunda vez, lá estava a França. O goleiro Bats defendeu mais um pênalti, e Platini também desperdiçou sua cobrança. O azar do Brasil foi escancarado numa cobrança do francês Bellone. Após acertar a trave, a bola, caprichosamente, desviou nas costas do goleiro Carlos e foi para o gol. Tempos mais tarde, a FIFA afirmaria que, em disputa de pênaltis, a jogada teria seu fim a partir do momento em que a bola voltasse em direção ao ponto de origem. Se esta regra tivesse sido aplicada à época, possivelmente o Brasil poderia ter se classificado. Voltando a disputa, no último pênalti brasileiro, Julio César selou a sorte da partida ao acertar a trave. Estávamos desclassificados e, pela segunda vez na História das Copas, de forma invicta.

Assim como o Brasil, o México, derrotado nos pênaltis pela Alemanha Ocidental, deixava a Copa invicto. Repetindo a 6ª colocação de 1970, o México conseguiu, pela segunda vez jogando em casa, a sua melhor colocação em Copas. Os dois torneios sediados pelo México também foram os únicos em que sua seleção terminou a Copa com saldo de gol positivo. E a Alemanha Ocidental, que havia participado da primeira disputa de pênaltis contra a França na Copa anterior, também chegava à sua segunda disputa de pênaltis em Copas.

Já a Inglaterra teve como carrasco o jogador argentino Diego Maradona. Em dois lances antológicos, Maradona marcou os gols que deram a classificação para sua seleção, num placar final de 2 x 1. No primeiro lance, a malandragem do argentino conseguiu êxito. Ao subir de cabeça, dentro da área inglesa, contra o goleiro Shilton, Maradona dá um leve toque com uma das mãos e empurra a bola para o fundo das redes. Apesar da reclamação inglesa, o árbitro tunisino, Ali Bennaceur, alegando não ter visto o toque, validou o gol. No segundo lance, Maradona recebeu a bola atrás da linha de meio campo e parte para o fundo das redes da Inglaterra, driblando cinco defensores ingleses, além do goleiro Shilton. Era o prenúncio de que a Copa seria de Maradona, e dos argentinos, é claro.

No outro jogo, os belgas levaram o jogo novamente à prorrogação contra a forte Espanha, mas dependeram da disputa de pênaltis, a terceira dentre os quatro jogos dessa fase, para avançar às Semifinais.

França e Alemanha Ocidental, que protagonizaram na Copa passada a primeira disputa por pênaltis, classificavam com esse recurso e se enfrentaram numa das Semifinais, repetindo a Copa de 1982. Mais uma vez deu Alemanha Ocidental, que se igualou à Itália, Brasil e Holanda ao disputar sua segunda final consecutiva. No outro jogo, a Argentina, com mais dois gols de Maradona, passava pela Bélgica.

Antes da grande Final, franceses e belgas participaram da partida que decidiu o 3º lugar daquela Copa. Foi mais um jogo emocionante com a participação da Bélgica, que começou vencendo o jogo, mas levou a virada da França ainda no primeiro tempo. A Bélgica conseguiu empatar antes do final em 2 x 2 e o jogo também foi decidido na prorrogação, a terceira da seleção belga na Copa, feito nunca antes acontecido em Copas. Desta vez, no entanto, os franceses levaram a melhor e ficaram com a vitória ao marcar dois gols no tempo extra e encerrar o jogo em 4 x 2.

A sede da final, assim como em 1970, foi a Cidade do México. A Alemanha Ocidental tentava apagar a derrota na final anterior. A Argentina buscava se firmar como elite do futebol. O primeiro gol foi do time argentino através de Brown. Jorge Valdano aumentou a vantagem argentina para 2 x 0, placar que duraria até os 35 minutos do 2o. Tempo. Valdano se tornou o mais velho jogador sul-americano a marcar gol em uma Final de Copa do Mundo, aos 30 anos e 268 dias. Aí o time alemão resolveu acordar. Em poucos minutos empatou o jogo, com gols de Rummeniegge e Voller. O gol do alemão Rummeniegge foi o de número 200 de europeus sobre sul-americanos na História das Copas. O empate parecia ter empolgado os alemães que se esqueceram de sua defesa. Tal falha foi punida por Burrochaga, ao receber, em um contra-ataque, um belíssimo lançamento de Maradona, há alguns minutos do final. O placar de 3 x 2 encerrou a Copa.

Assim como a Holanda em 1974 e 1978, o selecionado alemão perdia sua segunda final consecutiva. Com 14 gols em 7 jogos, a seleção argentina levou o título de melhor ataque, com a média mais baixa da história até então, com 2 gols por jogo, mas igualou a seleção brasileira ao alcançar essa marca pela terceira vez, repetindo 1930 e 1978.

Dentre as curiosidades dessa Copa, a surpreendente seleção da Dinamarca conseguiu uma incrível vitória por 6 x 1 sobre o Uruguai, a melhor de sua história, no jogo com maior número de gols desta Copa. Em contrapartida, foi a vítima de sua maior goleada sofrida e da maior goleada da Espanha até então, nos 5 x 1 das Oitavas de Final.

A segunda Copa no México terminou com a pior média de gols das treze Copas disputadas até então: 2,54 gols por jogo. Foram 52 jogos e 132 gols. A média de público foi também inferior a 1970: 46.297 espectadores.