História da Copa do Mundo de 1958

Suécia, 1958 – O primeiro triunfo brasileiro

Mais uma vez a Copa do Mundo, que deveria ser realizada em um país da América, tem como sede um país Europeu. Desta vez, porém, não houve protestos ou boicotes. Mesmo assim, os dois primeiros campeões mundiais, Uruguai e Itália, não conseguiram participar da Copa, ambas desclassificadas nas eliminatórias.

Com 55 países inscritos, as eliminatórias para a Copa de 1958, agora dividida por continentes, classificava os seguintes países: Argentina, Brasil e Paraguai, pela América do Sul; México, pela Concacaf; e Alemanha Ocidental, Áustria, Escócia, França, Hungria, Inglaterra, Iugoslávia, Suécia, Tchecoslováquia e os estreantes País de Gales, Irlanda do Norte e URSS, pela Europa. Foram 3 estreantes, 3 seleções que retornaram após a ausência em Copas anteriores e 10 seleções que participaram de forma consecutiva.

Assim como as Copas de 1950 e 1954, a Primeira Fase da Copa de 1958 foi dividida em quatro grupos de quatro seleções. Desta vez, porém, cada seleção componente do grupo enfrentava todas as outras seleções do mesmo grupo. Os dois melhores classificados, passavam de fase.

O Brasil iniciou a competição num grupo onde estavam presentes Áustria, Inglaterra e a seleção considerada favorita nesta Copa, a URSS do lendário goleiro Yachin, o “Aranha Negra” e atual campeã olímpica. No primeiro compromisso, o Brasil passou fácil pela Áustria: 3 x 0. O jogador brasileiro José Altafini, o Mazolla, marcou o primeiro e o último gol brasileiro e, aos 19 anos e 319 dias, tornou-se temporariamente o mais jovem jogador brasileiro a fazer gol em Copas, marca que seria quebrada dias depois por seu companheiro de equipe, o menino Pelé. Ainda hoje, Mazolla é o terceiro mais jovem brasileiro a marcar gol em Copas. No lado oposto, também nesse jogo, o segundo gol brasileiro foi marcado por Nilton Santos, aos 33 anos e 23 dias, tornando-se o jogador brasileiro mais velho a anotar gol em Copas, recorde batido apenas em 1998. Atualmente, Nilton Santos ocupa a terceira posição entre os jogadores brasileiros.

O segundo jogo, contra a Inglaterra, marcou aquele que foi o primeiro 0 x 0 da História das Copas. Contra a favorita URSS, o selecionado brasileiro também venceu: 2 x 0. Neste jogo, a estreia do menino Pelé, com apenas 17 anos e 235 dias, registrou o jogador mais jovem a entrar em campo até então, recorde este quebrado apenas em 1982. Ainda hoje, Pelé é o 5º mais jovem jogador a jogar uma partida em Copas e o mais jovem entre os sul-americanos.

Ainda pelo Grupo do Brasil, o empate em 2 x 2 entre Inglaterra e Áustria foi o 50º confronto e o 10º empate entre seleções da Europa. Não fosse pelo critério de desempate da época, que marcava uma nova partida para desempate, a Inglaterra se tornaria a primeira seleção a deixar uma Copa na Primeira Fase, invicta, após três empates. Mas a URSS venceu por 1 x 0 o jogo de desempate e desclassificou os ingleses.

O México, ao empatar em 1 x 1 com o País de Gales pelo Grupo C, quebrava o jejum de 9 jogos sem marcar sequer um ponto, a pior marca da História das Copas e a pior marca de uma seleção desde a sua estreia. No jogo entre Suécia e Hungria, o gol que deu a vitória por 2 x 1 aos húngaros, anotado por Lajos Tichy, foi o gol de número 200 dos confrontos entre europeus na história das Copas. Ainda pela Primeira Fase, outro empate em 0 x 0, desta vez entre Suécia e País de Gales, marcava o confronto de número 50 entre europeus em Copas.

Pelo Grupo B, no jogo Escócia 3 x 2 Paraguai aconteceu o gol de número 500 na história das Copas, anotado pelo escocês Bobby Collins, no terceiro gol de sua seleção e último do jogo.

Como os critérios de saldo de gols e gols marcados ainda não eram considerados desde a Copa passada para definir o classificado da chave, foi necessário também nessa Copa um jogo extra para decidir o classificado do grupo, caso acabassem empatados em pontos. E isso aconteceu em três dos quatro grupos dessa Primeira Fase. Um deles, inclusive, entre Irlanda do Norte e Tchecoslováquia, acabou apenas na prorrogação do jogo de desempate, com o gol que definiu 2 x 1 em favor dos irlandeses. Os tchecos tornavam-se os primeiros a disputarem a quarta prorrogação na História da Copas.

Nas Quartas de Final, o Brasil jogou contra o desconhecido País de Gales. O jogo, porém foi muito equilibrado. Ao final, o Brasil derrotou o adversário com um “magro” 1 x 0, com o primeiro gol em Copas daquele que se tornaria o maior jogador de futebol de todos os tempos: Pelé. Aos 17 anos e 239 dias, se tornava o jogador mais novo a fazer um gol em Copas, marca que carrega ainda hoje. A vitória nas Oitavas de Final sem sofrer gols, somado aos três jogos da Primeira Fase também sem ter a meta vazada, marcava a maior sequência de partidas sem sofrer gols de uma seleção até então, com 4 jogos sem que o goleiro Gilmar dos Santos Neves tivesse que buscar a bola no fundo de suas redes, ainda hoje a segunda maior sequência, atrás apenas da Itália de 1990, embora já igualada por outras doze seleções.

O jogo entre Alemanha Ocidental e Iugoslávia, que também acabou com o placar de 1 x 0 e se repetia pela segunda Copa consecutiva, levou os alemães às Semifinais.

Na Semifinal, o Brasil enfrentou a forte seleção francesa, do goleador Just Fontaine. Graças às jogadas magistrais de Pelé, o Brasil passa à final com o placar de 5 x 2. Foi a 10ª vitória da nossa seleção sobre uma seleção europeia. Além disso, o quinto gol brasileiro, anotado por Pelé, foi o 100º gol de sul-americanos sobre europeus na história das Copas. Pelé, com 3 gols nesse jogo, se igualaria a Leônidas da Silva (1938) como o segundo jogador brasileiro a marcar mais gols em um único jogo, perdendo apenas para Ademir de Menezes (1950).

Na outra Semifinal, mais uma vez a Suécia participava de um confronto marcante. Ao vencer a Alemanha Ocidental por 3 x 1 e se classificar para a final, marcava a 50ª vitória nos confrontos entre europeus. O segundo gol sueco que desempatou a partida a favor de sua seleção, foi do jogador Gunnar Gren, com 37 anos e 236 dias, tornando-se o jogador mais velho a marcar gols em Copas, sendo superado apenas em 1990 e ratificado em 1994 pelo jogador camaronês Roger Milla.

Na disputa pelo 3º lugar, o francês Just Fontaine igualava, pela quarta Copa consecutiva, o recorde de gols anotado por um jogador em uma única partida que vigorava na época. Fontaine assinalou 4 gols na incrível vitória por 6 x 3 sobre a Alemanha. Também se tornava o segundo jogador na História das Copas a marcar ao menos três gols em duas partidas de Copa do Mundo, uma vez que havia anotado três gols contra o Paraguai, repetindo o feito do húngaro Sándor Kocsis na Copa anterior. A França terminava a Copa participando dos dois jogos com mais gols nessa Copa e vencendo ambos: 7 x 3 no Paraguai e 6 x 3 na Alemanha.

Estocolmo era a sede da decisão. Aliás, o Brasil conseguia o feito de ser o primeiro país a disputar uma final fora de seu continente. O adversário era a anfitriã Suécia, que derrotara a campeã da Copa anterior, a Alemanha, na Semifinal.

A seleção sueca começou à frente no marcador com um gol de Liedholm. Quatro minutos mais tarde, Vavá empatava para o Brasil. Vavá, novamente, dava números finais ao primeiro tempo: Brasil 2 x 1 Suécia. Aos 11 minutos do segundo tempo, o menino Pelé, de 17 anos, aplica um chapéu sobre um zagueiro sueco e fuzila de “sem pulo” para dentro das redes: 3 x 1. Novamente com Pelé, o registro do 50º gol brasileiro sobre uma seleção europeia na história das Copas. Aí só dava Brasil. Zagalo anotou o quarto gol brasileiro e Simonsson diminuiu para 4 x 2. Para fechar a partida repetindo o placar da Semifinal, Pelé faz o quinto gol brasileiro. Foi a maior goleada em um jogo final de Copa do Mundo e a final com mais gols da história das Copas. Os dois resultados de 5 x 2 da seleção brasileira nessa Copa estão com a terceira maior marca de gols em uma partida de nossa seleção. Para Vavá e Pelé também foi o recorde entre jogadores brasileiros de gols marcados em um único jogo final: 2 gols, só igualado em 2002 por Ronaldo Fenômeno. A vitória também marcava a primeira vez em um confronto em que uma seleção conseguia três vitórias seguidas sobre outra, tendo as outras vitórias brasileiras ocorrido em 1938 e 1950.

De forma incrivelmente antagônica, os suecos levaram à final Gunnar Gren, o jogador mais velho a marcar gol em Copas, como já citado, e disputar uma final de Copa do Mundo até então, aos 37 anos e 241 dias, e abriram o placar com Nils Liedholm, o jogador mais velho a marcar gol em uma final, com 35 anos e 264 dias, enquanto que os brasileiros, com Pelé, tiveram o atleta mais jovem a jogar e marcar um gol em uma Copa, conforme também já citado, e a jogar, marcar gol e vencer uma final de Copa do Mundo, aos 17 anos e 249 dias. E Vavá, o outro brasileiro a anotar dois gols na final, tinha apenas 23 anos e 190 dias, quando anotou o gol de empate em 1 x 1, tornado-se o segundo jogador brasileiro mais jovem a marcar gol em uma final de Copa do Mundo. Ainda hoje, Vavá é o terceiro mais jovem a marcar gol em uma final e Gren é o segundo mais velho jogador europeu a disputar uma final e o segundo mais velho jogador a fazer gol em Copas.

A seleção brasileira foi a primeira equipe na história a conquistar um título fora de seu continente, numa Copa em que todos os seus adversários foram selecionados Europeus. E aumentou para 6 o número de jogos invictos para uma seleção campeã. O Brasil passava a 1º lugar no ranking das Copas, posição que ocupa até hoje. A Alemanha, 4ª colocada na Copa, assumiria o 2º posto no ranking e, assim como o Brasil, não mais sairia dele.

Aos suecos restou o consolo de conseguir sua melhor posição na história, com o 2º lugar alcançado, além de ser a única seleção anfitriã não campeã a disputar a final em seus domínios.

Coube a França, nossa adversária na Semifinal, o título de melhor ataque da Copa, com 23 gols, e ao francês Just Fontaine, o título de artilheiro do torneio, com 13 gols, marca jamais alcançada por nenhum outro jogador dentro de um mesmo torneio. A seleção francesa também conseguiu a maior goleada de sua história, 7 x 3 sobre o Paraguai, no jogo com maior número de gols dessa Copa. O garoto Pelé terminava a Copa com 6 gols, a 5ª melhor marca em uma única Copa para um jogador brasileiro.

O Paraguai, aliás, foi perseguido pelo número três nessa Copa. Era a sua terceira participação em Copas, disputou três jogos com três resultados diferentes, terminado com três pontos (pontuação antiga, com 2 pontos por vitória e 1 por empate) e marcando três gols em todos os jogos: 3 x 7 contra a França, 3 x 3 contra a Escócia e 3 x 2 contra a Iugoslávia. O jogo contra a Escócia, aliás, igualou o segundo maior placar com empate em Copas, assim como Cuba e Romênia em 1938, enquanto que a derrota para França é a quinta partida com mais gols na história das Copas.

A outra seleção sul-americana., a Argentina deixou a Copa na Primeira Fase com uma humilhante derrota de 1 x 6 para a Tchecoslováquia, a maior goleada dos tchecos em sua história.

Era o início da escalada brasileira ao topo do futebol.