História da Copa do Mundo de 1930

Uruguai, 1930 – A realização do sonho

O primeiro Mundial iniciou-se com a participação de treze seleções: Bélgica, França, Iugoslávia e Romênia, pela Europa; Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai, Peru e Uruguai, pela América do Sul; e EUA e México, pela Concacaf.

Devido ao boicote, a Copa não necessitou de eliminatórias, uma vez que as treze seleções participantes foram as únicas a se inscreverem para o torneio.

Divididos em quatro grupos irregulares, os países jogaram a Primeira Fase para classificar os campeões de cada grupo à Semifinal e os vencedores das Semifinais à grande final.

Numa das partidas iniciais do Mundial já tivemos, no primeiro lance realmente emocionante desta Copa, uma coincidência. O gol inaugural da história das Copas foi do francês Lucien Laurent, coincidentemente, de mesma nacionalidade do criador do sonho, o também francês Jules Rimet. Além disso, este gol registra a marca do primeiro gol feito por uma seleção europeia e primeiro gol de uma seleção europeia sobre uma seleção da Concacaf. A França venceu o México, neste compromisso, pelo placar de 4 x 1, no primeiro confronto e primeira vitória de uma seleção europeia sobre uma seleção da Concacaf.

Pelo Grupo D, também em partida inaugural no mesmo horário do jogo entre França e México, o primeiro gol dos norte-americanos sobre os belgas, anotado por Bart McGhee na vitória por 3 x 0, foi o primeiro gol de uma seleção da Concacaf em Copas e também o primeiro sobre uma seleção europeia. Também foi dos norte-americanos o primeiro gol sobre um país sul-americano, na abertura do placar pelo jogador Bert Patenaude, na vitória pelos mesmos 3 x 0 sobre o Paraguai. Patenaude marcou os outros dois gols do jogo e se tornou o maior goleador da Concacaf em uma única partida. Mais do que isso, somando-se esses 3 gols ao terceiro gol feito por ele na vitória de 3 x 0 sobre a Bélgica, Bert Patenaude tornou-se o maior artilheiro da Concacaf em uma única Copa, com 4 gols marcados, feito igualado somente em 1998 pelo jogador Luiz Hernandes, do México. Essas duas vitórias por 3 x 0 foram também a primeira de uma seleção da Concacaf sobre uma seleção europeia e sobre uma seleção sul-americana. Também foi a maior sequência de vitórias de uma seleção da Concacaf até então, igualada apenas a partir de 1970 em quatro outras ocasiões pelo México.

O Brasil entrou nesse Mundial já com um terrível desfalque. Devido a brigas internas, a seleção foi representada apenas por jogadores cariocas. A única exceção foi Araken, jogador paulista que na época da Copa não estava vinculado a nenhum time de São Paulo.

A seleção estreou sendo derrotada pela Iugoslávia por 1 x 2, com o primeiro gol brasileiro em Copas, anotado por Preguinho. Também foi o primeiro gol de uma seleção sul-americana em Copas e o primeiro sobre uma seleção europeia. O gol de Aleksandar Tirnanic, que abriu o placar para a Iugoslávia foi o primeiro gol sofrido pela seleção brasileira em Copas e o primeiro de uma seleção europeia, além de ter sido o primeiro gol de uma seleção europeia sobre uma seleção sul-americana. E o segundo gol, de Ivan Beck, foi o gol de número 10 nas Copas. A derrota para os iugoslavos foi o primeiro confronto brasileiro com uma seleção europeia e o primeiro entre sul-americanos e europeus na história das Copas e marcou também a primeira derrota brasileira em Copas e a primeira para uma seleção europeia, além da primeira vitória de uma seleção europeia sobre uma seleção sul-americana.

A seleção brasileira foi eliminado já na Primeira Fase, mesmo tendo vencido a Bolívia, no jogo seguinte, por 4 x 0, no primeiro confronto brasileiro com uma seleção sul-americana e na primeira vitória brasileira em Copas e a primeira sobre uma seleção sul-americana. Os gols do Brasil, nesse jogo, foram anotados por Moderato (2) e, novamente, Preguinho (2), sendo que o gol de abertura do placar, de Moderato, foi o primeiro gol da seleção brasileira sobre uma seleção sul-americana. Também ocorreu, neste jogo, a primeira defesa de uma cobrança de pênalti na História das Copas. O feito foi do goleiro brasileiro Veloso, substituto do titular da primeira partida, Joel. Outro fato marcante é que o atacante brasileiro Carvalho Leite, com 18 anos e 25 dias, tornou-se o mais jovem jogador brasileiro a entrar em campo em um jogo de Copa do Mundo, até 1958, quando Pelé quebrou esse recorde. Carvalho Leite ainda é o segundo mais jovem brasileiro a entrar em campo na história das Copas.

Ainda pelo Grupo A, a vitória da Argentina por 1 x 0 sobre a França registrou a primeira vitória de uma seleção sul-americana sobre uma seleção europeia. Já o gol que abriu o placar para o Chile na vitória de 3 x 0 sobre o México, de autoria do jogador Carlos Vidal, foi o primeiro gol de uma seleção sul-americana sobre uma seleção da Concacaf. Esse jogo também marcou o primeiro confronto e a primeira vitória de uma seleção sul-americana sobre uma seleção da Concacaf. Nesse mesmo jogo, o segundo gol chileno foi o primeiro gol contra na história das Copas, anotado pelo mexicano Manuel Rosas. Era o primeiro gol contra marcado por uma seleção da Concacaf e a primeira seleção sul-americana a ser beneficiada com um gol contra. No jogo entre argentinos e mexicanos, o primeiro gol do México, quando o placar mostrou 3 x 1 para a Argentina, foi também o primeiro gol de pênalti na história das Copas, anotado pelo mesmo Manuel Rosas, zagueiro que figura como o mais jovem jogador da Concacaf a entrar em campo e a marcar um gol na história das Copas, com apenas 18 anos e 90 dias. Foi o primeiro gol de pênalti marcado por uma seleção da Concacaf e o primeiro gol de pênalti sofrido por uma seleção sul-americana. A Argentina havia participado do jogo com maior número de gols desta Copa e que perduraria como esta marca até a Copa de 1938: Argentina 6 x 3 México. No último jogo deste grupo, o gol do argentino Mario Evaristo, que deu números finais ao placar da partida, 3 x 1 sobre o Chile, foi o gol de número 50 na história das Copas.

O gol de abertura do placar para a Romênia, pelo Grupo C, marcado por Adalbert Desu na vitória por 3 x 1 sobre o Peru foi o primeiro gol a sair antes de 1 minuto de jogo, aos 50 segundos de partida e o último gol, anotado por Nicolae Kóvacs com apenas 18 anos e 197 dias, figurou até 1998 como o gol do mais jovem jogador europeu em Copas. Até 2018, ainda é o quarto mais jovem jogador a marcar gol em Copas. Já o confronto entre Uruguai e Peru, o primeiro confronto entre sul-americanos na história das Copas, registrava, no único gol da partida marcado pelo uruguaio Hector Castro, o primeiro gol nos confrontos entre sul-americanos. E o resultado de 1 x 0 para os uruguaios tornava-se a primeira vitória de uma seleção sul-americana sobre outra seleção sul-americana.

Os placares da Primeira Fase mostravam, à exceção do grupo do Brasil, a superioridade das seleções da América frente as seleções Europeias, praticamente obrigadas a participar deste Mundial. E foram às Semifinais as seleções da Argentina, enfrentando os EUA e a seleção do Uruguai, enfrentado a Iugoslávia. Foi a única vez até então que uma seleção da Concacaf chegou a uma Semifinal de Copa do Mundo e a única vez que uma única seleção europeia também alcançou tal fase.

Talvez por jogarem no próprio continente, Argentina e Uruguai não tiveram maiores dificuldades para chegar a final. Ambas derrotaram seus oponentes com as maiores goleadas daquela Copa: Argentina 6 x 1 E.U.A e Uruguai 6 x 1 Iugoslávia. Detalhe interessante é que, enquanto os norte-americanos fizeram o gol de honra após levar os seis gols dos argentinos, os iugoslavos abriram o placar e depois sofreram a virada arrasadora dos uruguaios.

Na final, diante de um lotado estádio Centenário, a tradição da “Celeste Olímpica” sobressaiu diante da Argentina. Mesmo tendo perdido o primeiro tempo por 1 x 2, gols de Dorado para o Uruguai e Peucelle e Stábile para a Argentina, o Uruguai voltou ao segundo tempo com garra de campeão, e levou o título de virada. Resultado final, Uruguai 4 x 2 Argentina, tendo marcado os jogadores Cea, Iriarte e Castro.

O Uruguai, jogando em casa, tornara-se o primeiro campeão mundial, com a excelente marca de quatro jogos e quatro vitórias. Seu técnico, Alberto Suppici, foi o mais jovem técnico a vencer uma Copa do Mundo com pouco mais de 32 anos completos. O jogador argentino Carlos Peucelli, autor do gol que empatou a partida em 1 x 1, figurou como o mais jovem a marcar gol em uma final de Copa, superado apenas em 1958, pelo Rei Pelê. Peucelle perdeu o segundo posto apenas em 2018, mas ainda é um dos três mais jovens jogadores a marcar gol em uma final. Para a Argentina restava o consolo de ter sido o melhor ataque da Copa, com 18 gols em 5 jogos, e de ter, em seu selecionado, o artilheiro do torneio: Guilhermo Stábile, com 8 gols.

Nesta Copa não houve decisão de terceiro e quarto lugar, ficando para o time de melhor campanha até a Semifinal a terceira colocação. E coube aos EUA tal posto. Aliás, esta foi a melhor colocação dos EUA na história das Copas e a melhor colocação de um selecionado da Concacaf, sendo a única seleção fora do eixo América do Sul/Europa a chegar a uma Semifinal até a Copa de 2002, quando a Coreia do Sul conseguiu repetir tal feito jogando em casa.

Pelo menos um representante de cada continente, considerando que a América é dividida em América do Sul e Concacaf, conseguiu, nesta Copa, marcar gol, pontuar, vencer e passar de fase.

A Copa terminou com um saldo de 18 jogos e 70 gols marcados, o que resulta na média de 3,89 gols por jogo. Não foi registrado nenhum empate neste torneio, fato inédito nas Copas posteriores.

O primeiro Mundial encerrou-se com uma grande festa uruguaia e, apesar dos boicotes, o sonho de Jules Rimet começava com um sucesso que seria testemunhado por milhões de espectadores nas Copas seguintes.